Em algumas semanas deve começar o ano letivo no país. Mas diante do aumento de casos de Covid-19, causado, principalmente, pela disseminação da ômicron, a mais nova variante circulante por aqui, muitos pais estão indecisos sobre como agir.
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E, embora o Ministério da Saúde tenha autorizado a aplicação da vacina em crianças de 5 a 11 anos —ela deve começar nos próximos dias—, o ambiente escolar ainda gera dúvidas e insegurança. Por isso, conversamos com três especialistas para esclarecer os principais pontos em relação ao retorno presencial às escolas.
Devo mandar meu filho para a escola mesmo antes de ele ter sido vacinado?
De acordo com Alda Lúcia Santos Silva, infectologista e pediatra do HULW-UFPB (Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba), vinculado à Rede Ebserh, sim, as crianças devem ir para a escola.
“Nós sabemos que a infecção por Covid em crianças tem um incidente extremamente menor. E, apesar de ter também uma síndrome associada, a mortalidade é baixa, se comparado à população do país inteiro. Por isso não vejo problema nenhum em as crianças voltarem, desde que estejam conscientes, disciplinadas, orientadas pelos pais e mantendo as medidas sanitárias de combate ao coronavírus.”
Lilian Martins Diniz, infectologista pediátrica e professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), partilha da mesma opinião. “Nós vimos nessa pandemia que a educação precisa ser uma prioridade, e as crianças já ficaram muito tempo afastada das escolas de forma desnecessária, porque o que ocorre na escola é, na verdade, uma consequência do que está ocorrendo na sociedade, quando pensamos em transmissão da Covid”, diz.
É preciso, portanto, que haja um trabalho de controle orquestrado para conter a disseminação do vírus.
O ambiente escolar é seguro?
Para a infectologista pediátrica da UFMG, o ambiente escolar é seguro, sim. “Desde o início da pandemia, as escolas já se mostraram seguras, principalmente com as medidas de distanciamento e o uso de máscaras. E se observou que não houve surtos significativos nas escolas quando as crianças voltaram, e não tínhamos a vacina no ano passado”, argumenta Diniz, ressaltando que agora, com o início da vacinação infantil, essa segurança sanitária tende a aumentar.
Entretanto, Renato Kfouri, pediatra, infectologista, presidente do Departamento de Imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatra) e membro da diretoria da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), avalia que o nível de segurança das escolas vai depender de alguns fatores básicos preventivos.
“Quanto mais ventilada forem as salas, mais espaçadas as cadeiras, mais máscaras se utilizarem e quanto mais pessoas estiverem vacinadas, menor o risco”, alerta o especialista, ressaltando que, ao contrário, isto é, quanto menos vacinação e mais alunos por sala, por exemplo, maior será o risco.
Só com uma dose a criança estará 100% protegida?
Não. A vacina foi desenvolvida para que seja aplicada em duas doses, ao menos no caso da Pfizer, a que foi autorizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para esse público.
Apenas com uma dose, a vacina traz, sim, um grau de proteção, mas não o suficiente para dizer que a criança esteja completamente imunizada. Imagine você administrar a metade da dose de um antibiótico, não terá o efeito desejado, certo? O mesmo acontece com as vacinas.
Quais cuidados devemos tomar ao mandar as crianças para as escolas?
Os cuidados continuam os mesmos de sempre: uso de máscara, distanciamento social, higiene adequada como lavar as mãos várias vezes ao dia e o uso do álcool em gel.
Há riscos de, com a variante ômicron, haver um surto nas escolas?
Sim, mas ainda é cedo para falar, visto que o cenário pode melhorar daqui algumas semanas, ou não. De qualquer forma, vale lembrar que o que acontece nas escolas nada mais é do que o reflexo das cidades em geral.
Por isso, se houver um surto de casos no ambiente escolar é porque a situação está fora de controle, e as escolas, consequentemente, sofrem as consequências.
No entanto, a infectologista e pediatra Alda Lúcia Santos Silva lembra que as crianças tendem a ser mais cuidadosas que os adultos.
“Mesmo sendo uma variante extremamente infecciosa, ainda não vemos um poder letal alto, porque a população está vacinada”, afirma. “Essas variantes, como a delta e a ômicron, sem a vacina, não teriam freio, elas iriam se multiplicar e o resultado seria avassalador”, acrescenta.
Crianças continuam correndo menos risco de infecção grave?
Sim, embora o risco de infecção seja semelhante aos adultos, os especialistas acreditam que elas têm menos risco de desenvolverem formas graves da doença.
“Desde o começo da pandemia e por onde ela passou, comparado com os adultos e idosos, o risco é muito menor, mas não desprezível”, diz Kfouri, lembrando que o risco de formas graves é muito maior do que caxumba, rubéola ou sarampo.
“Todas as doenças do calendário [de imunização] somadas juntas matam muito menos que a Covid-19”, esclarece o pediatra infectologista.
Contudo, existem várias hipóteses para justificar a manifestação mais leve da doença na população pediátrica. “A interação do vírus com o organismo da criança, o número de receptores dessas células do pulmão, o contato que elas já têm previamente com outros vírus”, exemplifica a professora infectologista da UFMG.
Mas, veja bem, isso não significa, nem de longe, que é hora de relaxar qualquer medida de prevenção. “Em comparação com os adultos, a gente pode pensar que cerca de 2.500 mortes em pessoas com menos de 19 anos é pouco, mas não é insignificante de forma alguma. E isso deve gerar uma mobilização de prevenção, tratamento e cuidado para essa população”, enfatiza Diniz.
Crianças com comorbidades devem ir para a escola?
Sim. Mesmo as crianças que tenham alguma comorbidade devem ir para a escola, com exceção das que forem orientadas a permanecerem em casa pelo médico, que deve avaliar cada caso individualmente. Essa população, porém, terá prioridade no calendário de vacinação.
“Os estudos internacionais feitos em escolas não mostraram que esses ambientes trazem riscos para as crianças”, reforça a professora da UFMG, além de dizer, novamente que, independentemente de termos a vacina, “a escola é um ambiente seguro, e o que a vacina vai fazer é tornar esse ambiente ainda mais seguro”.
O intervalo entre as duas doses infantis será de 8 semanas, mas a bula da Pfizer recomenda 3. Essa diferença afeta a imunização?
Não, inclusive alguns países como o Canadá já vêm preconizando esse intervalo de 8 semanas. Mas embora ainda não haja um consenso na comunidade médica, os especialistas consultados por VivaBem concordam que o aumento do intervalo está associado ao menor risco de efeitos adversos, principalmente a miocardite.
O intervalo de 8 semanas também é relacionado a uma produção maior de anticorpos e melhora da resposta imunológica, além de possibilitar vacinar um número maior de crianças com a primeira dose, isto é, adiantar o calendário vacinal.
“A medida é corretíssima. Dados científicos apontam que intervalos mais longos são melhores do que 21 dias”, afirma Kfouri.
O presidente disse que não vai vacinar a sua filha, então por que devo vacinar a minha?
“Quando ele diz que desconhece crianças morrendo ou ficando em estado grave é um pouco assustador, porque nós trabalhamos nesses casos, e isso é uma realidade no país. Não tem sido fácil”, desabafa Diniz.
“Não existe fundamento científico algum nisso. Existe apenas uma opinião, porque há um consenso no mundo em relação aos benefícios da vacina que superam os poucos riscos existentes”, conclui.
Fonte: VivaBem/UOL