Um dado com o qual pouca gente se importava ganhou o centro das atenções, nas últimas semanas, no Brasil: a eficácia de uma vacina. Um dos imunizantes previstos para serem usados contra o coronavírus no País, a Coronavac, do Instituto Butantan e da chinesa Sinovac, demonstrou uma eficácia de 50,38%. Ou seja, quando vacinada com a substância, a pessoa tem reduzida em 50,38% a chance de ter a doença.
No Brasil, vacinas inclusas no Programa Nacional de Imunizações (PNI) chegam a ter eficácia superior a 80%. Mas não são todas. A da gripe, por exemplo, varia de 40% a 90%. No caso dos imunizantes contra a Covid-19, diferentemente do que é cogitado enganosamente, ter 50,38% não atesta inutilidade.
Hoje, no mundo inteiro, a vacinação é tida pela ciência como a estratégia primordial para conter a pandemia da Covid-19. Mas qual é o real significado da eficácia de uma vacina? Diante das várias questões que se tem colocado sobre o tema, a reportagem do Diário do Nordeste ouviu profissionais da saúde para explicar os processos e onde isso impacta.
A eficácia do imunizante, replicado no Brasil pelo Instituto Butantan, em São Paulo, está dentro do que é considerado recomendável pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para este cenário de pandemia. Ao induzir a redução das chances de adoecimento e, consequentemente, poder influenciar na taxa de necessidade de internações e também no número de óbitos, a vacina tem um considerável impacto no atual momento da crise sanitária.
Além disso, a eficácia das vacinas – seja ela qual for – não é absolutamente constante e pode variar a cada processo de imunização, conforme a tecnologia utilizada e a “atualização” dos vírus. A taxa de eficácia é a capacidade induzir a produção de anticorpos que vão garantir a proteção do organismo vacinado. Na prática, é o poder de o imunizante reduzir as chances de uma pessoa que foi vacinada ter a doença.
Em todos os processos de fabricação de vacinas, a taxa de eficácia é determinada nos estudos clínicos que ocorrem na fase 3. Essa etapa precede a avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), momento no qual atualmente estão as duas vacinas (Coronavac e AstraZeneca) candidatas a serem usadas emergencialmente no Brasil contra a Covid.
Programa de Imunizações
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, vacinas incluídas no calendário nacional de vacinação, e aplicadas nos postos de saúde, como a da meningite (meningocócica C) e a tetravalente viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela), alcançam, respectivamente 98% e 95% de eficácia. No caso do imunizante contra a febre amarela a taxa chega a 98%, de acordo com o Ministério. Já na da gripe, estima o órgão federal, a taxa “varia de 30% a 90%, sendo diretamente proporcional à idade”.
O presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, explica que é comum ocorrer distintos níveis de eficácia. “Nós temos exemplos de vacinas que utilizamos no dia a dia que têm eficácia variável, é que muitas vezes essas eficácias não dependem só da resposta do indivíduo. A vacina da gripe tem uma eficácia que varia de 40% a 90%. Nos grupos mais vulneráveis, em especial o dos idosos, a eficácia dela cai muito em proteger contra a doença gripe, mas ela protege de forma bastante elevada para os casos complicados e mortes”.
Juarez também esclarece que não se pode comparar o índice de eficácia da Coronavac com outras vacinas contra a Covid, como a AstraZeneca ou a Pfizer. Pois, na fase de testes, tais imunizantes utilizam diferentes métodos, tecnologias e protocolos nos estudos. O que torna inadequada a comparação do resultado das taxas de eficácia.
Além disso, o presidente da SBIm lembra que em situações de menor eficácia da vacina, maior é a proporção de pessoas que precisam ser vacinadas para que a proteção coletiva aumente. “Vamos precisar vacinar um percentual maior de pessoas para conseguir isso”. Ele destaca: “o importante é que temos vacinas eficazes. Esperamos que as duas candidatas (AstraZeneca e Coronavac) sejam liberadas para uso emergencial. Com seu perfil de eficácia considerado adequado e também muito seguras”.
Eficácia varia
A professora do Programa de Doutorado em Biotecnologia da Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio/Uece) e líder do Grupo de Pesquisa Inovação Biotecnológica em Saúde, Maria Izabel Florindo Guedes, reforça que eficácia da vacina é a capacidade que a substância tem de induzir uma resposta protetora. “Induz a proteção duradoura quanto àquela doença”, completa a pesquisadora.
Ela acrescenta que quando se fala de eficácia, tem que se considerar, dentre outras coisas, qual a tecnologia utilizada (tipo de vacina) e quão complexo é o processo de inativação ou atenuação do vírus em questão.
No caso da vacina Coronavac, ela utiliza vírus inativado. Conforme a pesquisadora, as vacinas podem ser: com o patógeno (agente causador da doença) inativado com produto químico ou temperatura. A eficácia do vírus inativado/morto, diz a professora, tende a ser mais fraca. Exemplos de vacinas com essa tecnologia: poliomielite e Coronavac; com o patógeno atenuado (geneticamente enfraquecido). A professora explica que o agente causador não está morto, mas enfraquecido. “Quando é atenuado a resposta é mais forte. O patógeno está ativo, a resposta é mais forte e duradoura. Por anos”, relata. Exemplos: sarampo, BCG, rubéola; e com partes do patógeno clonado em laboratório.
“Ou seja, com proteínas, não é o vírus completo, é parte dele. Isso são vacinas mais modernas com proteínas do vírus. Essas vacinas têm a vantagem de ter menos efeitos colaterais. É a tecnologia mais moderna”, reforça a pesquisadora.
São exemplos as vacinas como: hepatite, gripe (influenza) e HPV.
“Ser mais ou menos eficaz depende de como ela é produzida. Se eu clonar no laboratório apenas as proteínas do Sars Cov 2, eu posso encontrar uma proteína bem imunogênica e desenvolver uma resposta sem risco e com uma eficácia grande. Mas toda vacina para induzir uma resposta segura ela tem que gerar uma resposta humoral e celular. Precisa ativar linfócitos B (resposta humoral) e linfócitos T (resposta celular). Ao ativar as duas coisas produz memória”, completa.
Por Thatiany Nascimento
Fonte: Diário do Nordeste