Os lembretes de que a pandemia de Covid não acabou têm se multiplicado entre famílias de crianças cearenses. Mais de mil pessoas testaram positivo no Ceará, em maio, até domingo (29) – mais da metade delas têm de 0 a 9 anos de idade.
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O número de crianças infectadas pelo coronavírus já é quase 4 vezes maior do que o de idosos que contraíram a doença, neste mês, como também mostram os dados do Integra SUS, plataforma da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).
Entre 1º e 29 de maio, período mais atual disponível no Integra SUS, 1.070 pessoas foram diagnosticadas com Covid no Ceará, das quais 551 tinham até 9 anos – o correspondente a 51,5%. O número ultrapassa os 529 testes positivos em crianças do mês de abril inteiro. Predominam os casos em pacientes de 0 a 4 anos.
Das 8 mortes causadas pelo vírus pandêmico, uma vitimou um bebê de 1 ano, conforme os registros do Integra SUS.
Robério Leite, infectologista pediátrico, ressalta: as crianças são, no atual momento, o grupo mais desprotegido contra a Covid. “A vacinação chegou bem mais tarde, e para menores de 5 anos ainda nem começou, aguardando estudos e aprovação da vacina”, destaca.
O especialista afirma que a avaliação dos dados de segurança e eficácia do imunizante infantil tem é “promissora”. Enquanto isso, “o relaxamento do distanciamento, do uso de máscaras e a volta ao ensino presencial favoreceram a transmissão entre as crianças”.
“Esse aumento é observado em outros locais do mundo, mas um aspecto do Ceará é o período de chuvas intenso, que pode ter contribuído para a circulação de outros vírus respiratórios também.”
Robério Leite, infectologista pediátrico
A infectologista Mônica Façanha, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca ainda a subnotificação como um dos fatores para a discrepâcia entre a quantidade de casos de Covid em adultos e em crianças.
“Ao se sentirem sem risco de morrer, as pessoas tratam a doença em casa, sem procurar unidades de saúde nem fazer teste. Mas os adultos estão com 3 ou 4 doses da vacina, as crianças não”, alerta a médica.
Outros vírus preocupam
Além da Covid, outras síndromes gripais atingem os pequenos em cheio: até o último domingo (29), mais de 3.300 crianças de 0 a 9 anos foram atendidas em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Fortaleza com sintomas gripais.
O infectologista Robério Leite descreve “um aumento intenso” da busca de crianças por assistência médica, “com destaque para os Vírus Sincicial Respiratório, Metapneumovírus e Bocavírus”.
A maior parte dos casos, aponta o médico, é leve, mas também é visto um “aumento substancial de casos evoluindo para síndrome respiratória aguda grave (SRAG), seja por bronquiolite, por pneumonia bacteriana secundária ou pneumonia grave pelos próprios vírus”.
“Menores de 1 ano e crianças com problemas de saúde prévio, como cardiopatas e imunodeficientes, são os que mais têm evoluído com complicações, embora surpreendentemente crianças mais velhas e sem doenças prévias tenham tido também formas graves.”
Robério Leite, infectologista pediátrico
Como proteger as crianças
Identificar precocemente os casos de Covid, em adultos ou crianças com sintomas respiratórios, é uma das principais formas de barrar a disseminação do vírus, como destaca Robério Leite. Para isso, é preciso ampliar a testagem.
“Quem convive com os pacientes mais vulneráveis, aí incluídos os menores de 1 ano, precisam tentar reduzir exposição com uso de máscaras, ainda que não sejam mais obrigatórias. Além das vacinas da Covid, as crianças precisam ter seus calendários vacinais atualizados, pois terão maior proteção para outras doenças importantes”, frisa o médico.
Por Theyse Viana
Fonte: Diário do Nordeste