Após dois anos e meio de pandemia, a ciência evoluiu no conhecimento do SARS-CoV-2, o vírus da Covid-19. Alguns conceitos foram derrubados, como a possibilidade de transmissão por objetos e superfícies.
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Outras certezas se consolidaram, como a importância do uso de máscaras, o fato de transmissão ocorrer prioritariamente pelo ar e o protagonismo das vacinas no bloqueio de mortes e casos de Covid.
Agora, enquanto os casos passam por novo repique e autoridades alertam para a necessidade de aumentar novamente a proteção, listamos abaixo atitudes e medidas de proteção que são consenso na ciência e outras que não fazem mais sentido:
Comprovado e efetivo️
✔️A transmissão ocorre pelo ar. As partículas (aerossóis) são expelidas quando falamos, espirramos, tossimos ou respiramos.
✔️A máscara PFF2 (ou N95) é a mais eficiente e capaz de evitar contaminação. A máscara cirúrgica vem em segundo lugar. O segredo, no entanto, é saber USAR a máscara de forma correta.
✔️As vacinas são a maior proteção contra a Covid. Elas não evitam o risco de infecção, mas mantêm uma proteção muito importante contra doença grave, internações e mortes.
✔️Já existem remédios que ajudam no tratamento pós-infecção para impedir o agravamento de casos.
Condutas que podem ser deixadas de lado
❌Não há necessidade de limpar objetos e compras. O risco de transmissão por superfícies é quase zero. As gotículas são menos importantes do que os aerossóis.
❌Máscaras caseiras ou de pano devem ser aposentadas. Mesmo quando ela é nova, já tem uma capacidade menor de proteção.
❌Cloroquina e ivermectina não funcionam. Sociedades médicas, OMS e outras organizações são contra a prescrição dos medicamentos.
❌Termômetro para medir temperatura e usar luva para se servir no restaurante não evitam ou ajudam na prevenção da Covid.
Usar máscaras (mesmo vacinado): ✔️
A máscara é a grande aliada na proteção contra a Covid-19, já que pode bloquear partículas que a pessoa respira, tosse ou espirra para não as espalhar para outras pessoas. Ela também pode evitar que essas mesmas partículas sejam inspiradas.
“Sabemos que o vírus tem uma capacidade de transmissão bem alta. Uma pessoa pode transmitir para 10, 12 pessoas ou mais. O uso da máscara reduz a chance de quem está doente de transmitir e do contactante se infectar”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Alberto Chebabo.
Máscaras já foram obrigatórias, mas agora são recomendadas, principalmente para os grupos mais vulneráveis, imunossuprimidos ou em ambientes com muitas pessoas, como o transporte público.
Na Alemanha, pesquisadores concluíram que o risco de contrair Covid com uma PFF2 é mínimo. Se usada corretamente, a proteção facial oferece quase 100% de proteção.
Publicado na revista científica “Science”, um estudo comparou a eficiência de 14 tipos de máscaras. Em primeiro lugar, a PFF2 (ou N95). A máscara cirúrgica de três camadas ficou com o segundo lugar.
“A PFF2 tem uma capacidade de proteção maior, mas a cirúrgica também é boa e deve ser utilizada. Já a máscara de pano deve ser aposentada. Mesmo quando ela é nova, ela já tem uma capacidade menor de proteção. Conforme você vai lavando, ela vai abrindo poros no tecido e perdendo a capacidade. Ela não é recomendada”, alerta Chebabo.
Outra pesquisa, publicada no European Journal of Medical Research, analisou quatro artigos com um total de 7.688 participantes. Os estudos foram usados para avaliar a associação entre o uso de máscara e a infecção por SARS-CoV-2.
“Todos eles mostraram que o uso de máscara facial estava associado a uma diminuição do risco de infecção por SARS-CoV-2”, disseram os pesquisadores.
Quando falamos em máscaras, temos que lembrar que, além de boa filtragem, a máscara deve estar bem ajustada. Máscaras que deixam pequenos espaços abertos no rosto — acima do nariz ou nas laterais, por exemplo — não estão filtrando todo o ar que você respira.
E mesmo que você esteja totalmente vacinado (com o esquema primário + doses de reforço), as máscaras continuam funcionado.
“As pessoas precisam aprender que a máscara é muito importante para reduzir transmissão. Além disso, se você estiver com sintomas respiratórios e precisar sair de casa, você DEVE usar máscara. Você está protegendo outras pessoas de pegarem qualquer que seja a virose respiratória”, completa Chebabo.
As vacinas protegem: ✔️
Em entrevista ao g1 em janeiro, Chebabo disse que o mundo transformou a história natural da Covid-19 com a vacina.
“Transformamos uma doença que era altamente letal para uma doença cujo risco de morte é muito mais baixo em pessoas que se vacinaram corretamente”.
Essa mudança no curso da Covid-19 pode ser confirmada através de diversos artigos, estudos e pesquisas publicados durante a pandemia.
Um deles, publicado na revista The Lancet, estimou que as vacinas contra Covid-19 evitaram cerca de 20 milhões de morte em um ano de pandemia (entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021). O levantamento apontou que 79% das mortes (cerca de 15,5 milhões) foram evitadas por proteção direta da vacina. As outras 4,3 milhões de mortes foram evitadas pela proteção indireta — pela transmissão reduzida do vírus na população e a redução da carga sobre sistemas de saúde.
Segundo a OMS, todas as vacinas aprovadas pela organização fornecem proteção contra casos graves, hospitalização e morte. Além disso, há também “evidências de que ser vacinado tornará menos provável que você transmita o vírus a outras pessoas, o que significa que sua decisão de tomar a vacina também protege as pessoas ao seu redor”.
Chebabo dá o exemplo da nova onda que atingiu primeiro a Europa para mostrar que as vacinas protegem. “A onda de Covid começou antes lá e eles estão voltando para o estágio pré-onda. Apesar de o número de casos ter sido alto, quase não vimos impacto em mortalidade e casos graves. A vacina foi suficiente para proteger e evitar um desfecho mais complicado”.
Um estudo publicado em 2021 confirma o que diz a OMS e o presidente da SBI. Segundo os pesquisadores, os vacinados contra a Covid-19 têm nove vezes menos riscos de serem hospitalizados ou de morrer do que os não vacinados. Os autores analisaram dados de 22 milhões de pessoas com mais de 50 anos.
E se engana quem pensa que a imunização “natural”, ou seja, após pegar a Covid, é melhor do que a oferecida pela vacina. Uma pesquisa feita em Israel mostrou que as vacinas são mais seguras do que pegar Covid.
Publicada no periódico científico New England Journal of Medicine, a pesquisa revelou que o risco de inflamação no coração, inchaço nos gânglios linfáticos e/ou herpes zoster, tidos como efeitos adversos da vacina, são maiores em caso de infecção por Covid-19.
A infecção por coronavírus também está relacionado ao agravamento de doenças para as quais a vacinação não causou qualquer dano, como arritmia, lesão renal aguda, embolia pulmonar, trombose e infarto.
A transmissão é pelo ar: ✔️
A Organização Mundial da Saúde (OMS) demorou, na visão de diversos especialistas, para cravar que a transmissão pelo ar é a rota mais provável do vírus. Em julho de 2020, mais de 200 cientistas publicaram uma declaração no “Clinical Infectious Diseases”, da Universidade Oxford, pedindo aos organismos internacionais que reconhecessem o potencial de disseminação aérea da Covid-19.
Na época, a recomendação dos órgãos internacionais e da OMS se concentrava na lavagem das mãos e distanciamento social. “Eles são adequados, mas insuficientes para fornecer proteção contra microgotículas respiratórias transportadores de vírus. Este problema é especialmente agudo em ambientes internos e fechados”, disseram os cientistas.
Após a cobrança dos cientistas, a OMS reconheceu o surgimento de evidências sobre a transmissão de Covid pelo ar. “Temos conversado sobre a possibilidade de transmissão pelo ar e transmissão por aerossol como uma das modalidades de transmissão da Covid-19”, disse Maria Van Kerkhove.
Em 2021, pesquisadores voltaram a alertar que o combate ao coronavírus deveria ter foco em evitar a transmissão pelo ar, ventilando ambientes. O artigo foi publicado na revista científica British Medical Journal. Entre as quatro formas apontadas para evitar a transmissão estavam: manter o distanciamento, ventilar o ambiente, usar boas máscaras e ajustar bem a máscara.
Menos limpeza de compras (❌) , mais ambientes ventilados (✔️)
A certeza do contágio pelo ar leva a outra conclusão: ventilar ambientes é mais importante do que limpar compras. Não que limpar compras seja um hábito ruim, mas não é essa atitude que vai impedir a transmissão de Covid.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), agência de saúde pública dos Estados Unidos, disse em 2021 que a chance de o contato de uma pessoa com uma superfície contaminada pelo coronavírus resultar em infecção é menor que 1 em 10 mil. Ou seja: o risco é baixo.
“A transmissão por material é muito pouco comum e pouco importante diante da transmissão aérea. É claro que sempre existe o risco, mas ele é muito, muito, muito baixo e não justifica o excesso de preocupação que se teve no início da pandemia”, diz o presidente da SBI.
Para especialistas, a desinfecção de superfícies trouxe uma falsa sensação de conforto e segurança. No entanto, o foco deveria ter sido o outro desde que o contágio pelo ar foi comprovado.
Ainda em 2020, um estudo publicado por cientistas da Universidade de Stanford, nos EUA, mostrou que restaurantes, academias, cafés e bares eram os locais com maior risco de contaminação pelo vírus.
Cloroquina e ivermectina não funcionam contra Covid: ❌
Nos primeiros meses da pandemia havia a hipótese — investigada em estudos clínicos — de que a cloroquina ou a hidroxicloroquina poderiam ser eficazes no tratamento da Covid, principalmente se utilizados junto com a azitromicina, um antibiótico.
Com o avanço das pesquisas, ainda em maio de 2020 já havia posicionamento da OMS alertando contra o uso dos medicamentos na pandemia. A FDA (Food and Drug Administration, espécie de Anvisa americana) e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) logo na sequência desaconselharam o uso.
Em julho de 2020, uma pesquisa feita nos Estados Unidos reforçou o achado de que a hidroxicloroquina não funcionava em casos leves de Covid. No mesmo mês, um ensaio coordenado pela Universidade de Oxford associou a hidroxicloroquina ao agravamento de casos de Covid-19 e mortes.
No dia 10 de julho, a OMS reafirmou que não conseguiu “demonstrar um benefício claro’ do uso da cloroquina; ainda no mesmo mês, no dia 22, dois novos estudos publicados na ‘Nature’ mostraram que a cloroquina e hidroxicloroquina eram ineficazes para Covid.
Sobre a ivermectina, que também fez parte do chamado ‘kit Covid’, um estudo feito no Brasil e publicado no New England Journal of Medicine constatou que o fármaco utilizado para doenças parasitárias NÃO reduziu o risco de hospitalização por Covid. Os pesquisadores analisaram 1.358 pacientes com risco de doença grave em Minas Gerais.
“As evidências que apoiam o papel da ivermectina no tratamento do Covid-19 são inconsistentes”, disseram os autores da publicação.
Em 2021, a farmacêutica Merck, responsável pela fabricação da ivermectina, reforçou que não há dados disponíveis que sustentem a eficácia do medicamento contra a Covid-19. Segundo a empresa:
• Não há base científica para um potencial efeito terapêutico contra Covid-19 em estudos pré-clínicos;
• Não há evidência significativa para atividade clínica em pacientes com a doença;
• E há uma preocupante ausência de dados sobre segurança da substância na maioria dos estudos.
A ineficácia do “kit Covid” já foi comprovada em vários estudos. No entanto, já existem medicamentos que FUNCIONAM no tratamento da doença. É importante destacar que até agora nenhum remédio se mostrou eficaz para prevenir infecção por coronavírus. E vários dos tratamentos disponíveis se referem a medicamentos de uso restrito a hospitais. Também vale lembrar que nenhum medicamento substitui a vacina.
No Brasil, os remédios aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são:
• Remdesivir
• Sotrovimabe
• Baricitinibe
• Evusheld®️ (cilgavimabe + tixagevimabe)
• Paxlovid (nirmatrelvir + ritonavir)
• Molnupiravir
Termômetro e luvas no restaurante: ❌
Durante um período, o termômetro digital com sensor infravermelho (que mede a temperatura ao ser apontado contra a testa) foi usado como medida de prevenção contra Covid em parques, mercados, shoppings, escritórios. O termômetro detectava a temperatura da pessoa e, caso ele acusasse mais de 37,5ºC, a pessoa era impedida de entrar nos locais.
Essa estratégia não funcionou para frear a transmissão e funcionaria menos ainda atualmente. Isso porque a febre não é o principal sintoma de Covid. “Pessoas com Covid não tem febre, principalmente depois dessa variante e depois da vacina. Raramente vemos um paciente com febre. Medir temperatura não serve”, explica o infectologista e presidente da SBI.
E as luvas nos restaurantes por quilo para se servir? Chebabo diz que é inútil.
“Não tem o menor sentido. Não é assim que você vai se contaminar [pegando na colher para se servir, por exemplo]. A luva não vai reduzir em nada o risco de transmissão, porque essa transmissão é rara de ocorrer.
O infectologista lembra que as áreas de alimentação são os locais onde existe o maior risco de transmissão, como apontou o estudo de Stanford citado mais acima. “A pessoa usa máscara o tempo todo, mas na hora de se alimentar, ela se senta com quatro, cinco pessoas, sem máscara, conversando, em ambiente fechado. O risco de transmissão é bem maior nessa situação”.
Antes de se servir no restaurante, Chebabo dá uma dica: lave as mãos ou use álcool em gel.
Fonte: g1