Dos mais de 12 mil cearenses que não resistiram à agressividade da Covid, entre um março e outro, 604 morreram em casa. Só entre janeiro de 2021 e esse domingo (14), foram 85 óbitos domiciliares pela doença no Ceará: um a cada 24 horas. Os dados são do Integra SUS, da Secretaria da Saúde (Sesa), atualizados até as 10h03 de hoje (15).
A primeira morte em casa pelo coronavírus foi registrada no dia 25 de março de 2020, em Fortaleza. Até o fim daquele mês, já eram quatro. Em abril, o número subiu para 41, saltando para 291 em maio – mês com mais óbitos domiciliares pela doença pandêmica nesse perfil em todo o Estado.
Ao fim do ano passado, a quantidade de vítimas que partiram em casa infectadas pelo coronavírus chegou a 519, das quais 202 foram contabilizadas somente em Fortaleza. Já neste ano, foram 38 mortes domiciliares na capital: é uma vida perdida a cada dois dias.
O avanço súbito da quantidade de mortes em casa na cidade também ocorreu entre abril e maio, quando o número de registros subiu de 31 para 193.
O mês de junho fechou com 198 óbitos domiciliares, dado que permaneceu o mesmo até novembro. Em dezembro, contudo, o ano encerrou com 202 perdas nesse perfil em Fortaleza.
Lares habitados pela perda
Uma das vítimas da doença foi Eliton Banhos, cujos 74 anos foram encerrados pela Covid em 23 de abril do ano passado. A filha, Meg Banhos, foi quem o encontrou sem vida na própria cama dela, como narrou ao Diário do Nordeste um mês depois. O vazio da casa, desde então, é preenchido por lembranças.
“Você acha que nunca vai acontecer com você – mas nessa pandemia, mais do que nunca, esse pensamento está fora da realidade. Cuide dos seus, abrace de longe, não deixe de dizer ‘eu te amo’, olhar no olho, fazer um carinho, mandar uma mensagem. Isso é essencial. Esse inimigo ataca o corpo e a alma não só dos infectados, mas de todos ao redor”, disse Meg.
Assim como a cama para Eliton, a rede armada no quarto foi o último lugar onde Maria Irene da Silva esteve em vida. Aos 78 anos, ela também morreu em casa vítima da Covid-19, em Fortaleza. No próximo mês de maio, a partida completa um ano.
“No Dia das Mães, vai ser muito difícil”, garante a nora de Irene, Sandra Holanda. “É como se ela ainda estivesse aqui. Meu marido, filho dela, não entrava na casa só. Porque, pra ele, se entrasse pela porta ou pelo portão, ia ver ela deitada na cama. Trazia uma coisa muito forte”, complementa.
A história completa de Irene foi contada no episódio “Se saudade fosse um verbo”, o quarto do documentário “Sobre viver em tempos de pandemia”, produzido pelo Diário do Nordeste.
Quando procurar uma unidade de saúde
No início da pandemia, a orientação das autoridades de saúde era de que pacientes só procurassem uma unidade de atendimento quando apresentassem falta de ar. Foi o caso de Eliton, que, segundo a filha, não foi levado ao hospital porque não tinha esse sintoma. Mesmo assim, agravou e faleceu pela doença. Por isso, a recomendação, hoje, é o oposto.
“A pessoa deve procurar atendimento o mais rápido possível, logo no primeiro dia de sintomas gripais, para receber as primeiras orientações e realizar o teste. A ideia é que procure no SUS a unidade básica, e não diretamente o hospital, que atende pacientes mais graves”, pontua Keny Colares, infectologista do Hospital São José (HSJ).
Outra orientação, de acordo com o médico, é recorrer às teleconsultas, por meio do Plantão Coronavírus, da Sesa, e de serviços privados ofertados pelos planos de saúde, “para evitar de sobrecarregar o atendimento presencial”.
Em casa ou unidades de saúde, “é fundamental que as pessoas sejam testadas e monitoradas, para ver se vão evoluir com uma doença leve ou desenvolver sinais de gravidade”, aponta o infectologista, que faz parte Coletivo Rebento/Médicos em Defesa da Vida, da Ciência e do SUS.
Serviço
O atestado de óbitos domiciliares é feito pelo Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), que funciona de modo ininterrupto para recebimento de corpos, emissão de declarações de óbitos e acolhimento de familiares e responsáveis por autorizações de necropsias.
Com a chegada da pandemia, porém, o SVO estabeleceu novas medidas de segurança, passando a realizar a “autópsia verbal, que inclui entrevistas com familiares próximos a quem faleceu e uma análise externa do corpo”, como explica a Sesa.
Por Theyse Viana
Fonte: Diário do Nordeste