Está confirmada a presença das subvariantes BA.4 e BA.5, que são formas mais transmissíveis da ômicron, no Ceará. Os vírus, associados ao aumento intenso de casos nos Estados Unidos e Europa, foram identificados pela Rede de Vigilância Genômica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
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As informações foram repassadas por Fernando Dias, doutor em Ciências da Saúde e membro da Rede Genômica da Fiocruz Ceará, nesta terça-feira (5).
A identificação acontece com base na análise de 115 amostras colhidas entre os dias 27 de maio e 18 de junho. Do total, 50 são referentes à BA.5 e 10 à BA.4 abrangendo 52% dos exames.
Os testes analisados são, principalmente, do Hemoce e do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) – de lá foram 3 amostras. A maioria dos exames são de residentes de Fortaleza.
Os achados mostram que as subvariantes, em pouco tempo, já são prevalentes entre os pacientes. Dessa forma, a BA.5 começa a tomar o lugar da subvariante BA.2, que desde meados de fevereiro dominava no Estado.
Confira o resultado do sequenciamento genético:
• BA.5: 50
• BA.4: 10
• BA.2: 29
• BA.2.9: 12
• BA.2.12.1: 2
• BA.1: 1
• BA.1.1.: 1
A descoberta das subvariantes acontece em um contexto de aumento da positividade para a Covid, como contextualiza Fernando Dias.
“Observando as amostras apenas do Ceará, no último mês, a gente viu que a taxa de positividade subiu de 3% para mais de 30% mostrando que, de fato, a gente está numa ascensão no Estado”, destaca.
Os pesquisadores alertam que essas subvariantes têm um potencial maior de transmissão infectando, inclusive, pessoas pouco tempo depois de receberem uma dose da vacina.
Sequenciador
“Pessoas que tiveram o reforço vacinal, em coisa de 7 ou 10 dias depois testaram positivo para a Covid, mostrando que são variantes capazes de driblar o sistema imune. O escape vacinal é muito alto”, detalha Fernando.
Com essas mudanças genéticas do vírus, as vacinas já produzidas devem passar por um processo de atualização para garantir maior proteção diante desse contexto de subvariantes. A Pfizer, como exemplifica o especialista, está avançada nesse processo.
“As vacinas protegem, salvam vidas, mas foram desenvolvidas no início da pandemia, quando a gente tinha ainda aquela linhagem de Wuhan, na China, e ao longo desse tempo a gente viu uma evolução viral muito grande.”
Fernando Dias, membro da Rede Genômica da Fiocruz Ceará
Nesse contexto, manter o calendário vacinal e fazer a testagem com sintomas ou contato com casos confirmados é relevante para conter o avanço do vírus.
“Todas as medidas preventivas, como uso de máscaras, assepsia das mãos e evitar grandes aglomerações porque, de fato, estamos vivenciando uma nova onda de Covid no Ceará”, completa.
Perigo escondido
Os cientistas enfrenta dificuldades com o avanço da Covid no Ceará devido à falta de testagem, já que muitos pacientes estão assintomáticos ou com sintomas leves. Além disso, os autotestes, sem o registro dos casos positivos, não são monitorados.
“Isso é um fator muito preocupante para a vigilância genômica, porque a pessoa tem fácil acesso (aos autotestes), o teste deu positivo e não é notificado. Então, a gente tem uma subnotificação dos casos de Covid”, frisa Fernando.
A Rede Genômica da Fiocruz Ceará recebe amostras de dois grandes centros: o Laboratório de Biologia Molecular para diagnóstico da Covid-19 do Hemoce e a Unidade de Apoio ao Diagnóstico da Covid da Fiocruz Ceará.
“É fundamental ter os resultados e saber o que acontece em tempo real com outros centros de triagem, como o Centro de Triagem dos Viajantes, que fica no Aeroporto já que é uma porta de entrada de infecções.”
Fernando Dias, membro da Rede Genômica da Fiocruz Ceará
O que são subvariantes?
As subvariantes surgem no processo de mudança genética do vírus, como explicou o infectologista Keny Colares. Quando essa mudança é muito expressiva, surge uma variante. Quando a transformação não é tão intensa, são subvariantes.
“A própria ômicron, na medida em que vai se multiplicando, tem pequenas mudanças e acaba formando a BA.2, BA.3, BA.5. Claro que a diferença da Alpha para a ômicron é muito maior do que entre a BA.1 e BA.2, porque são parentes próximas”, frisou.
“Aparentemente, essas diferenças são suficientes para fazer com que esse vírus consiga infectar melhor e driblar um pouco a proteção que a pessoa tenha de infecções que ela já teve no passado vacinas que ela já recebeu no passado.”
Keny Colares, infectologista
Com isso, há maior chance de uma pessoa ser infectada mais uma vez em um curto espaço de tempo. Além disso, quando vários pacientes são contaminados, o sistema de saúde pode ser sobrecarregado.
Por Lucas Falconery
Fonte: Diário do Nordeste