A velocidade da produção de resíduos sólidos é uma realidade agravada pelo descaso que a individualidade impõe em relação ao futuro do planeta, transformado em uma grande lata de lixo em órbita. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o meio ambiente, são encontrados 18.500 pedaços de plásticos por quilômetro quadrado de oceano a uma profundidade de 30 metros. No entanto, mais grave ainda é a produção de lixo abstrato gerada pela velocidade da informação nas infovias, transformando o ser humano comum em um rato cibernético rotineiro, que vive de detritos eletrônicos, que formam o perfil da sua infectada realidade absoluta. Isso é o que se tem para hoje no Brasil.
Os lixos visíveis e invisíveis são produzidos pela mesma intenção: a imposição de uma poderosa rotina de hiperconsumismo e a devida blindagem para a crônica letalidade tóxica da economia do cotidiano humano. As notícias lixo se misturam a uma profusão alucinada de informações diárias e tendem a formar uma cortina de distrações para esconder aquilo que realmente interessa ao poderio econômico e, principalmente, quem é quem no painel de predadores, e quem realmente está com a arma engatilhada. Diante da produção incessante de fatos transformados em informações, nem sempre a realidade é o que parece ser para quem tem interação direta ou indireta com o desenrolar das ações e personagens do cotidiano, por falta de atenção ou falta de intenção mesmo de entender o que se passa. A alienação tem se agigantado, no que pese o obscurantismo, o negacionismo, a revelia educacional e a hipnose deletéria do politicamente correto.
Os últimos protagonismos grandiosos da história brasileira em suas narrativas específicas que envolvem os poderes, a mídia e a sociedade, mais ocultam do que revelam, mais aprimoram o fracasso do que o sucesso. A superficialidade do imediatismo, que é especialista em criar satisfações passageiras, impede o reconhecimento de referenciais para a maioria, seja de direita, de esquerda, de centro, de lado, de bandinha ou nas entrelinhas. O ritual eletrônico de esperar o Jornal Nacional trucidar a família metralha que está no poder é um dos paradoxos cínicos da realidade: espera-se o justiçamento justamente de quem criou a injustiça. A Globo foi uma das principais forças para a realização do golpe contra Dilma e uma das mais poderosas influências na eleição de Bolsonaro. A Globo foi cabo eleitoral convicta do modelo nazifascista.
O chamado JN é a reencarnação de Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler. A rede Globo criou um batalhão de influenciadores entre artistas, apresentadores, esportistas, narradores, jornalistas e espectadores. Dizimar a esquerda e depois fincar o modelo assassino neoliberal, para que as portas da exploração humana sejam definitivamente escancaradas, sempre foi uma missão corporativa. O jogo dos signos embaralha as cartas e o lobo vira cordeiro com honrarias, o povo aplaude e pede bis. Sendo assim, aquilo que parece ser uma saída é mais uma porta que se abre para o corredor. Prisão de Queiroz; desmantelamento do gabinete do ódio; prisão de militantes milicianos; reunião ministerial de bandidos; ataques à Constituição e democracia; a boiada passando em direção ao extermínio do meio ambiente; desconstrução dos direitos humanos; e silêncio absoluto da Globo em relação a Moro, o pivô de todo o cabaré brasílis. Sempre soube disso tudo, sempre esteve lá e nunca fez nada a respeito. Bolsonaro só existe por causa de Moro. Moro só existe por causa da Globo.
Já o teatro representado pelo Supremo Tribunal Federal tem um roteiro cheio de lacunas suspeitas, por um lado exibe um legalismo que trama e é compromissado em atender os oligopólios dos famigerados investidores e por outro lado faz as vezes de paladino da moral e da honestidade trambiqueira. O STF foi fundamental para o golpe, mandando prender e fustigar a vida de envolvidos diretamente na ação, só depois da queda de uma presidenta que não cometeu nenhum crime. Basta lembrar que há bem pouco tempo, bem pouco mesmo, antes da revelação da reunião infernal de ministros, em que o STF foi atacado frontalmente e de forma oficial, todas as atitudes legais contra a família metralha estavam paradas, mesmo com uma coleção de crimes contra a Constituição ter sido praticada em cascata pelo bando. Mesmo com todas as revelações do The Intercept Brasil Moro foi legitimado pelo Supremo, que fez de conta que a realidade era outra. Com a prisão de Queiroz é necessário lembrar que Dias Toffoli, atual presidente do STF, blindou Flávio Bolsonaro contra as investigações que revelam ser Queiroz o operador financeiro do esquema de rachadinha do filho do presidente. Lembra?
Esse mesmo poder Supremo poderia ter impetrado mandado de prisão para Weintraub, mas não fez. Alegando investigação do óbvio. Se é Weintraub que chama os ministros do STF de vagabundos e que eles deveriam estar na cadeia, vai investigar o quê? Se aquele era um clone que estava falando? Se era um holograma implantado pelos comunistas? Enquanto o STF dissimulou, Weintraub fugiu, com ajuda descarada do presidente, com direito a mudança de data da exoneração no Diário Oficial, levando em sua bagagem uma infinidade de iniquidades contra a educação. A militância educacional não derrubou Weintraub, ele foi caído pela ideologia olavista. A militância educacional está eufórica com a queda do nazista, mas não consegue esconder que nunca conseguiu mudar o panorama educacional brasileiro, com ou sem Weintraub. O sistema Educacional brasileiro realmente precisa ser revisto, sua estrutura de repasse do conhecimento deve mudar completamente, para que exista discernimento, para que professores, alunos e profissionais liberais não apoiem novamente o fascismo e saibam reciclar o próprio lixo.
Por Marcos Leonel – Escritor e cidadão do mundo
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