O Vasco Cratense completou cinquenta e três anos no último dia nove. Foi em mil novecentos e setenta e dois a sua fundação. Nasceu da ideia de amigos. Formaram o time que pouco mais de meio século de existência veio a se tornar a maior expressão do futebol amador de nossa cidade, eu ouso dizer do Cariri.
Em conversas com amigos, veio à tona a pergunta que é moda nas redes sociais. Qual a melhor seleção de todos os tempos? Qual o a seleção do mundo de todos os tempos? E por aí vai. A gente que é metido mesmo, resolvemos formar o Vasco de todos os tempos. E debate, regado a uma cervejinha gelada que ninguém é de ferro e o calor estava de matar.
Começamos pelo goleiro. Uns aclamavam Luizinho, o Jaraguá, um dos melhores goleiros que passaram pelo futebol cratense, dono de uma envergadura aquilina, e estatura de profissional. Outros eram adeptos da agilidade e coragem de Hernando, o goleiro mais vencedor da história do Alvinegro do Morro. Disputa acirrada, e acabou que, como se fosse haver jogo no domingo, o certo seria cada um jogar um tempo. Vale dizer que os votos para um e para outro vinham de contemporâneos de época. Os mais antigos por Luizinho, os mais jovens por Hernando.
Para a lateral direita, os nomes mais cotados foram Dola, Marcondes e Cabra. Quem defendia o primeiro, argumentava como fator decisivo a paixão, Dola é o único jogador cria do Vasco que nunca jogou contra as suas cores por outra equipe, além claro de ter sido um bom lateral. O segundo, dono de uma técnica apurada e chutes fortes, era um grande candidato, mas Antonio Filho, o cabra, era dono de uma história belíssima dentro da grande história do Vasco Cratense, de roupeiro à dono da camisa dois, multicampeão, força, raça, habilidade e rapidez num só atleta, foi ele o escolhido.
A essa altura a turma já não pensava mais. Era pura paixão! Quando perguntaram quem seria o lateral esquerdo, um gritou: – Martelo! Quem era Martelo? É preciso conversar mais com os mais antigos torcedores para saber, mas Martelo se destacou no Vasco em suas primeiras formações. Outros gritaram: – Bolinha! E mais outros: – Chico Lito! Até Marcondes fora indicado por alguém. A discussão esquentou, mas acabou que Bolinha ficou com o posto, ele era o elo entre a antiga geração e a nova, e muita gente lembrava seu de capacidade ambidestra e chutes precisos.
Melhor agilizar isso, falou com voz embolada um antigo torcedor. Vamos à dupla de zaga, Dunga, Pedim de Telina, Zé Carlos, Gomes, Mauricio, Fabão, Sergio da Lua, Tico do Brejo foram os nomes lembrados, dadas as cervejas, a memória já não ajudava. Entretanto, um nome figurou unânime para a zaga, Maurício, foram longos 20 anos defendendo a equipe, grandes conquistas, para seu companheiro de zaga, Dunga, e não se fala mais nisso.
Para a cabeça de área, o carregador de piano Deda, irmão de Dunga, acabou por ser o nome mais lembrado, Rogério Leonel foi escolhido como o volante habilidoso. A amnésia etílica não permitiu outros nomes, mas Nem fora citado, e retirado porque era meia.
Para meia cancha, vários nomes foram lembrados, Juquinha, Binha, Esmeraldo, Nem, Luiz Biraia, Luizim Caveira, Judinan, Caio, etc, etc, etc, a zuada foi grande e por predileção ou por amizade, não deu para saber, ficou Esmeraldo e o próprio acabou escolhendo Juquinha para jogar a seu lado.
Para o ataque um nome foi unânime: Marcos cara de boi, a justificativa era plausível e era das antigas. Nos anos 1990 a 2000 havia no fim do ano a festa do Vasco onde se realizava o tradicional prêmio “Melhores do ano” e certa feita, Galo de Janelice pronunciou esta verdade incontestável: “O único prêmio ai que não se pode discutir é o de artilheiro”. Logicamente, quem o ganhava, era por mérito objetivo, mais gols no ano. Enquanto os outros prêmios eram por indicação. Sábias palavras de Cícero de Sousa. Todos sabemos que o saudoso Marcos Cara de Boi é o maior artilheiro da história do Vasco Cratense. Nada mais justo e lógico, ter sido ele o primeiro a ser escolhido para o ataque. Quem dera ele aqui estivesse para escolher o seu companheiro. Talvez eu tivesse alguma chance, já que éramos muito amigos (rsrsrs). A lista dos lembrados tinha Menoca, o craque; Marciel dos gols importantes, Gledson Iguatu, Doda, esse que vos escreve, Anderson, da nova geração de campeões, Lulu, Maiado, Vicente de Manezim, Eugênio, houve um gaiato que gritou “Neto Bolim”, outro “Hermano” e acabou tudo virando uma grande resenha, porque assim é o futebol. E quando se faz lista, corre-se o risco de cometer injustiça.
Essa crônica é tudo uma brincadeira do cronista. O que se almejava com estas linhas era homenagear todos aqueles que fizeram a história do alvinegro do Morro, como atletas, torcedores, e diretores. O Vasco, essa lenda viva que insiste em que a amizade é o motor condutor do Expresso da vitória e o futebol a alegria do povo. Viva o Vasco Cratense do Alto da Penha!
Por Francinaldo Dias. Professor, cronista, flamenguista, contador de “causos” e poeta
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri










