A vida é um ciclo interminável de idas e vindas. Tudo volta, mais cedo ou mais tarde. Essa é uma realidade que pode nos assustar ou nos confortar, dependendo de como encaramos as reviravoltas do destino.
Lembro-me de quando era criança e minha avó costumava dizer: “Tudo volta, meu querido. O que vai, volta.” Na época, eu não entendia muito bem o que ela queria dizer com isso, mas ao longo dos anos, essas palavras se tornaram mais claras para mim.
As estações do ano são um exemplo vívido dessa constante alternância. O inverno dá lugar à primavera, que cede espaço ao verão e assim por diante. É um ciclo que se repete a cada ano, trazendo consigo a promessa de renovação e a beleza da mudança. E, nesse contexto, a ideia de que “tudo volta” se torna reconfortante. Sabemos que, após o frio e a escuridão do inverno, a primavera trará flores e cores, o verão trará calor e alegria, e assim por diante. Isso nos traz esperança e nos ajuda a enfrentar os desafios da vida.
Mas a vida não é feita apenas de estações. Ela é repleta de altos e baixos, de momentos de alegria e tristeza, de encontros e despedidas. E é aí que a ideia de que “tudo volta” pode se tornar assustadora. Afinal, nem tudo que volta é bom. Às vezes, o passado traz lembranças dolorosas, traumas que pensávamos ter superado, ou situações que preferiríamos esquecer.
É como se a vida fosse um eterno jogo de vai e volta. Os amores perdidos retornam em pensamentos melancólicos, as oportunidades perdidas assombram nossos sonhos noturnos e os erros do passado nos fazem questionar nossas escolhas. Nessas horas, a ideia de que “tudo volta” pode parecer um fardo, uma sentença de prisão perpétua.
No entanto, é importante lembrar que a maneira como encaramos o retorno das coisas é uma questão de perspectiva. Podemos escolher ver cada volta como uma oportunidade para crescer, aprender e evoluir. Os erros do passado podem nos ensinar lições valiosas. As lembranças dolorosas podem nos tornar mais fortes e resilientes. Os reencontros com o passado podem nos mostrar o quanto mudamos e o quanto ainda podemos evoluir.
Além disso, a ideia de que “tudo volta” também nos lembra da importância de viver o presente. Afinal, o passado já se foi, e o futuro é incerto. O único momento que realmente temos é o agora. Portanto, em vez de temer ou desejar o retorno de coisas passadas, devemos concentrar nossa atenção no presente e fazer o melhor que podemos com o que temos.
Tudo volta, sim, mas o que importa é como escolhemos lidar com essas voltas. Podemos abraçar as reviravoltas da vida com coragem e otimismo, ou podemos nos encolher de medo e resistência. A escolha é nossa.
Em última análise, a ideia de que “tudo volta” é uma parte intrínseca da experiência humana. A vida é feita de ciclos, de altos e baixos, de encontros e despedidas. E, no final das contas, essa constante alternância é o que torna a jornada da vida tão rica e fascinante. Então, seja conforto ou assombro, a capacidade de tudo voltar é uma característica fundamental da nossa existência. E cabe a nós decidir como vamos abraçá-la.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este texto é de inteira responsabilidade da autora, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri