Esperei menos que meia dúzia de palavras a vida inteira. O terreno que vivi sempre foi seco, às vezes cheio de crateras, hora e outra, algumas poças efêmeras para molhar os caminhos. As palavras servem também para molhar, nem que seja a testa de suor.
Agora não sei mais como continuar. Faltaram palavras, acredito que elas não faltam, mas está difícil de prosseguir. As palavras talvez tenham luzes, devem ficar apagadas ou ter horas para acender, de vez em quando encadeiam. O fato é que elas estão desaparecendo neste exato momento.
Parece que foi criado um muro, entre o quero pronunciar e o que consigo escrever. O texto vai se espreguiçando, dando sinais que está se acordando, ainda com poucas palavras. O gesto do corpo, a ação, tem mais palavras do que alguns textos. É como se o texto fosse uma fotografia sem palavras, em que é preciso olhar e sentir para ler intensamente e com desenvoltura.
Telhas, carros, prédios, praças, árvores, extintores, câmeras, portões, tijolos e o próprio lixo são mais que palavras. As palavras só são alguma coisa, porque criamos as coisas e ficamos dependentes da criação.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri