A Troça Carnavalesca Mista “Taqui Procêis!”, há trinta e cinco anos desfila nos carnavais de Olinda. Traz no estandarte um grande “Cotoco” que simboliza aquele gesto quase tribal que todos nós já estampamos (externa ou intimamente) em inúmeras situações nesta vida, com santos de menos e FDP de mais. Os pernambucanos de origem ou adotivos, como eu, andam meio desesperados e de língua de papagaio depois que a Covid 19 levou o Carnaval 2020 para o respirador. Estamos todos escarmuçando, esperando o chamado de Momo em fevereiro próximo, isso se a pandemia não resolver vir para festinha de Variant. Pois bem, o “Taqui Procêis!” já conseguiu , gratuitamente, seu mascote para o Carnaval 2021: o simulacro de ministro ou sinistro da Doença Queiroga ou Quidroga como já o chamam alguns. O Brasil levou uma vultosa comissão para Nova York com fins de ciceronear o presidente da nossa republiqueta bananosa que faria uma live, diretamente da Nações Unidas, direcionada aos 22% de ruminantes que ainda lhe dão apoio. Hospedaram-se todos em hotel estrelados ao máximo, pois quem atira com pólvora alheia não toma chegada. Na live, como bom ficcionista, ele descreveu um Shangri-lá de que, infelizmente não deu o endereço para a gente se mudar para lá, e, como bom charlatão, continuou a prescrever meizinhas que têm um efeito pior do que água do pote para a Covid. E lá estava ele, como único chefe de uma nação que não se vacinou. Terminada sua fala, a organização teve que dar um banho de álcool no púlpito e trocar o microfone que deve ter sido levado para o autoclave. À noite, a comitiva viu-se recepcionada por uma trupe de brasileiros em protesto, foi quando o Queiroga, revoltado (imaginem um protesto contra um governo ótimo como o da Besta Fera?) , cumprimentou a turba com dois fabulosos “Taqui Procêis!”
A repercussão em todo mundo foi imensa, o sinistro teve até que pegar Covid para atrasar sua volta ao país. Alguns criticaram a falta de controle, uma vez que os protestos são um apanágio das Democracias e um direito do cidadão que é quem paga a conta das viagens. Outros lembraram a liturgia do cargo, naquele momento não era o Queiroga (ele se alterna entre capacho e jagunço do presidente), que dava o cotoco, mas o Ministro da Doença do Brasil, de quem se exige (seja lá quem esteja de plantão ocupando o cargo) um mínimo de postura e honradez. Todas estas críticas são perfeitamente cabíveis em se tratando de um governo normal. Mas não é, infelizmente, disso que se trata. Estamos diante de déspotas que, a todo instante, ameaçam o regime democrático e que se põem em incessante luta contra todo marco civilizatório. Pregam, abertamente, a ditadura; o fechamento do Congresso e do Supremo; agressões à imprensa; o armamento da população e o preparo da guerra civil; o confronto com a Ciência; o Terraplanismo; o Charlatanismo; a mentira; o extermínio de inimigos; a destruição da natureza; o racismo, a xenofobia, o genocídio e o apagamento de qualquer traço de Cultura. No meio dessas labaredas infernais, o cotoco do sinistro pode ser considerado apenas uma fagulha, um afago, um “abença-mãe”.
No Carnaval de 2022, a Troça “Taqui Procêis!” significará bem mais daquilo que sempre representou. O Taqui procêis pode ser considerado um slogan do atual governo, poderia até ser estampado como sua logomarca. Estão reclamando do preço do arroz, da gasolina, do gás, do óleo, da carne? Do desemprego? Da Inflação? Da fome? Da falta de vacina que não paga propina? Do salário de miséria? Da compra superfaturada do Centrão? Das Rachadinhas? Do desmatamento? Dos incêndios nos museus e na Cinemateca? Vocês querem é água, é? Azeite, senhora Vó!
Taqui procêêêêiiiiiissss!
Por J. Flávio Vieira, médico e escritor
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri