Sete anos passaram, e a cidade segue seu ritmo, indiferente ao tempo que se acumula desde aquela noite de março. Mas há ausências que pesam mais que o passar dos dias. A de Marielle Franco não se dilui, não se acomoda, não se esquece. Seu nome ecoa, sua memória insiste, sua luta continua, espalhada em sementes que nunca param de brotar.
A vida de Marielle foi um ato de resistência. Mulher negra, periférica, ativista, parlamentar, cada um desses títulos era, por si só, um desafio ao sistema que sempre tentou limitar quem pode ocupar espaços de poder. Sua trajetória não foi um acaso, mas um caminho construído a passos firmes, marcados pelo compromisso com aqueles que o mundo preferia ignorar.
Sete anos depois, há ruas que carregam seu nome, discursos que fazem referência às suas ideias, meninas que sonham em seguir seus passos. Marielle virou símbolo, mas, antes de tudo, foi presença real, de carne e osso, de olhar atento e riso fácil. Não foi um mito, nem um conceito abstrato, mas uma mulher que acreditava na transformação e dedicou sua vida a ela.
Ainda assim, sua ausência nos lembra que a luta não é só memória, é urgência. As desigualdades que ela denunciava seguem vivas, as estruturas que ela desafiava permanecem de pé. O trabalho de quem ficou é fazer com que sua voz não tenha sido em vão, que suas pautas não se tornem apenas homenagens vazias, mas compromissos concretos com um futuro mais justo.
Porque o que se tentou calar naquela noite nunca deixou de falar. Marielle está nas mães que choram pelos filhos vítimas da violência, nos movimentos que reivindicam direitos, nas mulheres negras que ocupam espaços antes negados. Seu legado se espalhou, multiplicado por aqueles que entenderam que lembrar não é apenas um ato simbólico, mas um posicionamento político.
Não há justiça completa sem transformação. De nada adianta erguer monumentos em sua homenagem se as vozes como a dela continuam sendo silenciadas. De nada vale lembrar seu nome se esquecemos a razão pela qual ela lutava.
Sete anos não apagaram Marielle. Pelo contrário, tornaram sua presença ainda mais forte. Porque há pessoas que, mesmo ausentes, continuam mudando o mundo. E Marielle é uma delas.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este artigo é de inteira responsabilidade da autora, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri