Sou deste e de outros tempos tantos
Como uma avoante levado nas correntes dos ventos
Testemunhei as eras de dois séculos
E morte e aurora de dois milênios.
No relicário de minhas retinas guardo
memórias, histórias e causos vários
Nas trilhas trilhadas do meu itinerário.
Carrego gravado no cordel da mente
Os saberes de tantos mestres
E as magias de seus condões.
Na vastidão da arena do mundo
Ouvi o som da viola rasgando o ar
E a voz cadente de um poeta
Iluminando a terra com um repente.
Sou deste e de outros tempos tantos
Como uma avoante levado nas correntes dos ventos
Testemunhei as eras de dois séculos
E morte e aurora de dois milênios.
Carrego desta terra em mim
O fogo de um sol incandescente
E o sal deste mar imenso
Ave de rapina, Carcará avoando
sobre as matas da Araripe chapada.
Sei da cana o doce e a palha em navalha
O pendão balançando ao vento
Na moenda a prensa o bagaço, o caldo
No tacho o mel, alfinim
Rapadura nas caixas.
Sei da massa, mandioca e gente
Nas roldonas prensadas,
Farinha do pirão dos patrões-coronéis primeiro.
Sou deste e de outros tempos tantos
Como uma avoante levado nas correntes dos ventos
Testemunhei as eras de dois séculos
E morte e aurora de dois milênios.
Carrego desta terra em mim
O sangue Kariri!
Por Fabiano Brito. Cratense, cronista e poeta com três livros publicados: “O Livro de Eros”, “Ave Poesia” e “Lunário Nordestino” (Editora UICLAP)
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri