Em meio a maior pandemia do século, que já ceifou a vida de 200 mil pessoas pelo mundo, só nos EUA são mais de 50 mil mortes, um país em que 30% da população é negra, 70% dos mortos são afrodescendentes, no maior império do mundo os pobres estão morrendo. No Brasil, centenas de pessoas são enterradas em covas rasas, o sistema de saúde SUS, que nos últimos anos sofreu vários cortes, em muitos estados já está em colapso. No entanto, o presidente da República, contrariado a OMS e o protocolo adotado por quase todos os países, de isolamento social, minimiza os efeitos do vírus, diz, ” é só uma gripezinha”, cria uma falsa dualidade entre a economia e a vida, participa e estimula aglomerações, defende o fim o do isolamento social. Bolsonaro desempenha o verdadeiro papel de mensageiro da morte.
Mas será ele um maluco? Um louco? Um Nero? Não! O capitão não é bobo, ele é sim um sociopata, vive do conflito. Ao contrário dos anteriores presidentes na história da República, que tiveram uma postura conciliatória, Bolsonaro apresenta um outro comportamento tático. Não procurou unir a nação em torno de plano contra a epidemia, que fosse capaz de socorrer as empresas, garantir o emprego, preservar vidas e ajudar os desvalidos. Ao contrário, queria liberar apenas 200 reais de renda emergencial, o Congresso aprovou 600 reais, mas é grande a demora para o pagamento. Mantém uma constante crise politica com os governadores, os prefeitos, o Congresso, o STF, participa de manifestações que pedem o retorno da Ditadura. Aposta no caos, para chegar ao centro da sua intenção: a instalação de um Estado Policial Autoritário a partir da ocupação dos espaços institucionais. O caso da Policia Federal é apenas um exemplo.
A saída do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, representa um grande desfalque, uma quebra da aliança com o lava-jatismo, Lawfare (guerra jurídica) que pavimentou a vitoria eleitoral de Bolsonaro. O Juiz de Curitiba, não é nenhum santo: recebeu treinamento nos EUA, mas suas declarações e provas apresentadas é uma verdadeira peça acusatória, uma delação que pode acelerar o Impeachment do presidente. As próximas semanas serão decisivas.
No entanto, mesmo isolado, o bolsonarismo consegue mobilizar uma parcela da sociedade. Milícias infiltradas nas forças de segurança, vide o exemplo da greve da PM do Ceará, militares, militantes da ultra-direita, seguidores de Olavo de Carvalho, conservadores, empresários e grupos religiosos fundamentalistas, mesmo sendo minoria, esse grupo influencia outros setores. Acuado, mas apoiado pelos generais, o governo procura uma aliança com o centrão.
Nesse momento, a vida e a democracia no Brasil estão em risco. Uma primeira ação dos humanistas deve ser a solidariedade com as pessoas que estão em necessidade, o apoio as entidades populares, a Igreja, que buscam os mais vulneráveis. A sociedade precisa reagir em defesa da vida e da democracia.
Por Aurélio Matias. Mestre em Ciências Sociais
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri