Todos nós já experimentamos a arquitetura mesmo antes de entender a sua importância, ouvir a palavra ou até mesmo entender o seu sentido. A compreensão da arquitetura vem do berço, de nossas lembranças ainda quando criança brincando no quintal ou na rua com os nossos amigos, do aconchego aos fins de semana na casa dos avós, do espaço que tínhamos para sonhar e imaginar dentro do nosso quarto. Desde cedo experimentamos inconscientemente a arquitetura e a trazemos em nossa memória como as raízes mais profundas de uma árvore fincadas ao chão.
Praticar arquitetura antecede o nosso raciocínio lógico que também segue normas e técnicas durante o exercício diário da profissão. É mais do que um projeto desenhado no papel. Suas qualidades e a prática são adquiridas ao vermos, tocarmos, e sentirmos um aroma, por exemplo. A medida que crescemos carregamos imagens na nossa mente de todas as experiências de lugares que vimos e vivenciamos, paisagens, materiais, texturas, sons e cheiros. Durante o processo criativo somos influenciados por todas essas imagens que guardamos em nossa memória e são justamente elas que através dos nossos sentidos nos guiam e nos levam a experimentar novas formas de criar.
Do que vivi no ambiente acadêmico afirmo que a arquitetura não é só desenhar e esperar do professor a resposta certa para solucionar os nossos problemas e extinguir nossas angústias. O processo de criação e produção envolvem a percepção, habilidades sensoriais, as influências do entorno, o embasamento teórico e o desenvolvimento do senso crítico para nos auxiliar durante as inúmeras tentativas de expor as idéias a fim de conceber um projeto. A coleção de imagens que carregamos conosco nos direciona e nos ajudam a encontrar talvez novas soluções, a reinventar ou remodelar algo já então criado e que pode ser apresentado de uma outra forma, ressignificado.
A qualidade concreta do objeto arquitetônico surge do esforço incessante e persistente de uma idéia que depois de tentativas, adquiriu escala e formas tridimensionais. Ela vem da relação e do conhecimento que necessitamos ter ao trabalhar com inúmeros materiais, e da aplicação inteligente para fazer da obra uma representação genuína e real. A riqueza dos detalhes vem não somente da aplicação destes materiais a que o profissional deve ter conhecimento, ela está contida nas qualidades que adquirimos ao longo da vida, do modos como vimos a luz atravessar uma sala, dos detalhes de transições do chão para a parede e da parede para a janela.
Um bom design nasce da forma significativa e inteligente de como os materiais são aplicados numa arquitetura, atentando aos efeitos e sensações de cada detalhe, faz da obra arquitetônica um trabalho genuíno que expõe os desejos do seu mestre, que concretiza-se não só apenas embasada na razão mas também na emoção.
A obra arquitetônica concebida e materializada é a representação real de um desejo que antes era abstrato mas que agora possui sua própria natureza, aura e inúmeras qualidades. Devemos aguçar os nossos sentidos e trazer à tona as nossas experiências em forma de memória de tudo o que vimos e sentimos. As bases teóricas e normas técnicas irão nos ajudar a tornar concreto o projeto, mas são as nossas habilidades sensoriais, as nossas influências e percepção que irão ajudar a dar vida e sentido à idéia.
Inspirado em: ZUMTHOR, Peter/Thinking Architecture
Por Gabriela Gomes. Apaixonada pela Arquitetura e o Urbanismo. Acredita em uma arquitetura participativa como uma ferramenta capaz de provocar mudanças e promover a inclusão social. Por um Urbanismo sustentável e inteligente. Juazeirense, reside atualmente em San Jose, CA
*Este texto é de inteira responsabilidade da autora e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri