Moranguinho, preto, pobre, morto. Ainda não tinha votado, tirou apenas o título da ilegalidade. Foi fotografado com a bandeira do Brasil olhando para um horizonte de miudezas e restos.
Brincava de bila, bola e pipa. Inquieto. Parece que tinha andanças postas num liquidificador, bagunçadas.
Moranguinho ria, mas devia ter uma vida azeda. Sua mãe era uma anônima. As pessoas anônimas são aquelas que tiveram suas dores enterradas na vala da exclusão. As dores são tratadas como frescuras para pessoas desnutridas de esperança. Seu pai também era um escondido da história.
O mundo desigual pari feridas e sonhos. Moranguinho, continua vivo, em cada bala encontrada nas bocas sufocadas da paisagem empobrecida.
Moraguinho não teve como escolher, nem sei se ele comeu frutos vermelhos.
O menino preto e pobre foi assassinado desde o dia que nasceu.
Ao dobrar a esquina, da rua esquecida, brotam Moranguinhos, prontos para assaltar a felicidade que lhe foi roubada.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri