Casamento e casa têm tudo haver. Conheço gente que casou com trezentos infinitos sonhos e com os olhos mais adocicados da vida eterna: só esqueceram de combinar com o destino. Vivi em tantas moradas, nenhuma minha, estive de passagem. A gente passa, ocupa os cômodos e quando estamos sozinhas fazemos coisas inacreditáveis. Outro dia, conversei com o espelho um tempão, ele ficou ali parado, lógico, ainda tentei conquistá-lo, quase me convenci que era uma infalível conquistadora.
Quando me casei pela primeira vez, talvez tenha casado outras vezes, não lembro. O fato é que naquele momento, tinha a certeza de que encontrava o que desejava há muito tempo, aquele aconchego, os braços espalhados pelo chão frio, a bolinação nas coisas e as portas fechadas para os momentos de flores e sossego. Encontrava a alforria, enquanto, outras encontravam o amor.
Na casa a gente guarda um monte de coisas. Vamos juntando retalhos da vida, as cores pálidas e envelhecidas das paredes, as lembranças das chuvas e das goteiras, as lágrimas, gargalhadas e os miados famintos da gatalhada ocupando os telhados durante as madrugadas. As despedidas de cada canto.
Quando se pensa em ganhar em um desses prêmios grandes, com muito dinheiro, a primeira coisa que transita entre os olhos e os soluços é a casa. Descasada, ainda creio encontrar uma casa, já que os amores são impossíveis.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, artista, educador e integrante do Coletivo Camaradas
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri