A poesia pulava nos olhos. A roda-gigante rodava palavras e mistério, mas não havia roda-gigante. Quase se falava poesia ali; faltou pouco. Pimenta e chocolate sobre a mesa abriam os caminhos do verso e do ritmo; o poema estava apenas em construção.
Descascava o fogo com o sopro, e veio o calafrio. As mãos tecidas de maciez caminhavam como quem escreve em papel de seda: com delicadeza. Era noite de fogueira verde na alma.
As luzes apagadas acendiam as estrelas, a lua, o sol e o asteroide B-612 do Pequeno Príncipe, que chegava naquele momento. Faíscas trêmulas escorriam pelos lábios entre palavras que faziam balé.
Fuga. Quase cinco horas da manhã. Suspirava enquanto tateava as folhas que se apresentavam para a noite. Deixou duas xícaras de barro em cima da mesa para lembrar do sabor da poesia.
Quando o sol se abriu pela manhã, lembrou-se da rosa do Pequeno Príncipe. Imediatamente, ligou para o tempo e para a ternura, fechou os olhos e refez a passagem molhada de fogo da noite.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, artista, educador e integrante do Coletivo Camaradas
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri










