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Pernas pra que te quero – Por J. Flávio Vieira

Colunista escreve semanalmente no Revista Cariri

30 de maio de 2020
Pernas pra que te quero – Por J. Flávio Vieira

(Foto meramente ilustrativa)

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Geremildo vivia mais tranquilo que sanguessuga em perna de tetraplégico. Solteirão, metido num pequeno comércio de Secos & Molhados, a renda não o elevava à importante patente de empreendedor, mas dava para o gasto. Controlado, rapa de sola, Geremildo nunca esticou o passo que não coubesse no compasso da perna. Era mais conhecido em Matozinho por um apelido que engolia sem fazer careta: “Imbuá”. Sua única falha, segundo o experiente Ranulfo Sitônio, um mascate aposentado de Matozinho, foi (coisa de galego de primeira viagem) não compreender que as desgraças, na vida, nunca se negociam no varejo: adquirem-se, sempre, no atacado. Pois seu Mar da Tranquilidade, de repente, quebrou as ondas no Cabo da Tormenta.

Naquele tempo, em Matozinho, os burros, jegues e cavalos começavam a ser substituídos pelas motocicletas. Vaqueiro tangia boi de moto; matuto carregava bodes e porcos amarrados nas motocicletas e conduzia esposa e filhos espremidos, botando a gata pra miar, entre o tanque e a garupa. Atrelava-se ainda a moto em pequenas carroças para a venda de , de pão, de verduras. Ela passou a ser a condução moderna na vila, trazendo um certo ar de chiqueza e de importância a seus condutores. Comprava-se facilitado na capital, comia pouca gasolina, andava por tudo quanto é cuvioco, subia até em pau de sebo nas quermesses do Padre Arcelino. O Motor, como os matozenses chamavam, virou o sonho de consumo de tudo quanto era vivente daquelas brenhas. Com Geremildo não foi diferente. Quebrou o porquinho que guardava debaixo da cama, juntou os cobres e encomendou o bólido.

Imbuá lembra com saudade o dia em que recebeu a moto reluzente, trazida amarrada na sopa de Duzentos. Nem ouviu os conselhos de outros praticantes do motociclismo local. Diziam que tivesse cuidado, que tomasse algumas lições antes de pilotar o mói de ferro. Afinal aquele bicho só tinha duas rodas e tinha sido projetado para uma finalidade específica: Cair!

— O quê? Quem já amansou burro brabo e já campeou boi zebu, dentro de carrasco , tem lá medo de montar num coisa besta dessa?

Aí , Sitônio soltou a última frase da sua morada no Mar da Tranquilidade:

— Deixe comigo! Não quero nem saber quem cortou a perna do Saci, meus amigos! Eu já vendi foi a muleta!

No dia seguinte, nosso filhote de piloto empurrou a moto até o topo de uma ladeira, pediu para um amigo ligar a estrovenga com umas pedaladas. Montou e desceu encosta abaixo . Pende para lá, pende para cá, parecia um perneta que tivesse tomado dois litros de fubuia. Haviam, sim, lhe ensinado onde era o acelerador, mas não encontrou o freio. Lascou-se no meio de um jatobá frondoso, da margem da estrada e, quando os amigos correram, o encontraram meio desacordado e com a perna quebrada. Levaram-no para a botica de Janjão que prescreveu uns mastruz triturados para colocar no local e um chá de jalapa. Geremildo, coitado, terminou tendo que ser levado para a capital e quando voltou tinha deixado a perna direita por lá.

— Quebraram minha pernas! Mas foi melhor do que eu tivesse esticado elas! — disse um Sitônio meio choroso, mas aparentemente consolado.

A partir daí, a via crucis do nosso negociante estendeu-se no atacadão dos dias. Morando sozinho, com os gastos do tratamento e da viagem, sem poder trabalhar por meses, as finanças começaram a deteriorar. Conseguiu ,com o prefeito Sinderval Bandeira, uma perna mecânica e a adaptação pareceu-lhe mais difícil do que pilotar a moto. Com o tempo, conseguiu andar com certa desenvoltura, até que um dia, em casa, a perna quebrou e ele caiu. Passou mais de meio dia rastejando até conseguir pedir ajuda. Soube depois que a prótese doada era de péssima qualidade, como quase tudo que vem do governo. Jurou de pé junto que nunca mais pediria tênis a Sereia.

Pois foi no meio desse sufoco, enquanto enchia, novamente, pingo a pingo, o porquinho para juntar dinheiro e comprar uma perna nova que Geremildo conheceu aquela que parecia ser uma enviada celeste para adocicar um pouco o fel dos seus últimos meses. Cacilda lhe apareceu. Era de Matozinho, tinha passado anos no Rio de Janeiro e voltara com aquela inflexão sensual na voz que lhe deixou com a única perna restante, bamba. Chegou como uma missionária, trabalhara como promotora de vendas em Niterói e jurou-lhe, de pés juntos, que podia ajudá-lo. Reboculosa, com pneu de suporte com mais de quarenta libas, alta e com curvas como a ladeira do Quincuncá, a perna de Geremildo enroscou-se como visgo nas de Cacilda que se abriram em compasso como para-brisas de fusca . Um Geremildo carente, mais seco que língua de papagaio nos Inhamuns, apaixonou-se rápido pela carioca. Rolou um clima e, em menos de uma semana, a namorada já estava aboletada na casa dele de mala e cuia.

A carioca falante mostrou, então, a que veio: iniciou uma campanha caritativa na cidade para a compra da perna mecânica de qualidade para o noivo . A igreja, políticos, amigos participaram de rifas, leilões e bingos sequenciaram-se na campanha “ Geremildo de Pernas pro Ar !”. A apoteose aconteceu com um bazar, no pátio da Igreja, quando uma Cacilda lacrimejante avisou, ao final, agradecida e emocionada: haviam arrecadado os seis mil reais que pretendiam e que, finalmente, seu amor iria poder andar com a mesma galhardia de outrora. Bombas rasga-latas pipocaram, fogos vararam o céu, em meio às palmas dos matozenses.

À noite, em casa, Geremildo e Cacilda comemoraram o feito com umas talagadas de pinga e a continuação da lua de mel. Pela manhã, ele acordou com uma ressaca daquelas: parecia que tinha engolido um gato com as unhas abertas, gogó abaixo. Chamou pela noiva: lugar mais limpo! Anoitecera e não amanhecera, nem ela nem o dinheiro arrecadado! Pegara a sopa na madrugadinha. Avisara ao motorista que estava indo à capital comprar a prótese do noivo. Mas mentira tem perna curta! Geremildo descobriu, rápido, que haviam lhe passado a perna. Tinham lhe dado uma rasteira !

Com os dias, conseguiu superar o pé na bunda. Mas com tantas pernas perdidas , pernas enroscadas, pernas compradas e doadas, nunca mais conseguiu se livrar do apelido de “Imbuá”.

Por J. Flávio Vieira, médico e escritor

*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri

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