Andei trocando ideias com alguns colegas professores de outras instituições, e até de outros estados. Cheguei à conclusão de que estamos se não nos mesmos barcos, mas no mesmo mar revolto do sistema educacional brasileiro. Nunca foi fácil ser professor no Brasil, mas ultimamente, além de desafiador, está insalubre e até perigoso, fica a dica para as demandas do próximo movimento paredista protagonizado pelos professores, não a turma do sindicato, que é tudo político, e eu, já não acredito em políticos.
Numa das conversas que tive, soube que o colega estava licenciado, após quase uma década persistindo em sala de aula contra as orientações do psiquiatra, acabou por ceder. Já não funcionava mais ligar aquele botão do politicamente incorreto quando se está escrevendo no quadro para evitar leitura labial, a gente sabe que botão é esse, há quem o diga com o PH das antigas pharmácias. Melhor para ele, agora está tendo tempo para ver que enxugava gelo ou malhava ferro frio.
Outro, também licenciado, pelas mesmas razões óbvias, percebeu que seu casamento ia de ladeira abaixo por conta dos seus estresses causados pelo trabalho na escola. Achou por bem seguir a orientação profissional do psiquiatra: noventas dias de afastamento que foram reduzidos a sessenta a critério da escola. Diz ele que pelo menos agora está tendo tempo de preparar as aulas do jeito que gosta. O médico dele estava correto, errou apenas nos dias, melhor cento e oitenta.
Um terceiro, aliás, terceira, em tom de brincadeira, anunciou que está por um fio para fazer uma loucura. As perseguições da gestão tirana estava lhe tirando o sossego. “Qualquer dia desses vou às vias de fatos verbais”. Fazer de conta que não era com ela já não estava funcionando. Dura realidade.
Esses relatos poderiam ser frutos de minha imaginação, entretanto, são fatos, a escola está muito mudada, e a cada ano o projeto para sucatização humana dentro dela se concretiza. E não é algo silencioso, sem alarde. Os números há anos são a meta. Se na teoria utópica a qualidade deve superar a quantidade, na prática, se dá o inverso. Na pressão, os professores são quem mais sofre. Isso porque sangue de barata não é algo que circule em nossas veias. Professor é ser sensível e mesmo quando já estafado da luta, cede de alguma forma a pressão, e sucumbe ao modelo do fracasso, há em seu âmago a autocobrança. Porque nele ainda há esperança.
Em todos os rincões do Brasil, a realidade é a mesma com pequenas variações. No plano das ideias, ou como queira, no marketing escolar, a idealização romântica de que se anda a passos largos na superação das dificuldades históricas. Na prática, violência física de alunos contra professores, violência simbólica por parte das gestões contra a educação. Realmente, ser professor no Brasil não é fácil.
Por Francinaldo Dias. Professor, cronista, flamenguista, contador de “causos” e poeta
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri










