Voavam, pareciam pipas de uma só cor no céu. Eles sempre pousavam no mesmo canto, em cima de uma parede amarelo ouro. Uma criança da altura da cintura de sua mãe, mulher que nunca foi alta, nem baixa, observava aqueles pássaros grandes da altura da cintura de sua mãe, do seu tamanho.
Todas as manhãs, durante anos, os pássaros voavam e pousavam na mesma parede amarelo ouro.
Ao sair na calçada, a criança sempre avistava, depois da linha, que não era a do horizonte, aqueles bichos.
Ninguém dizia nada, viam apenas pássaros voando e pousando. A criança achava que os pássaros estavam brincando, como crianças que se juntam aos montes para correr atrás da bola.
Voava os sonhos, os pássaros e a algumas coisas que a criança não sabia definir. Da altura da cintura de sua mãe, não conseguia ver de perto, o que acontecia. Só sabia que eles voavam e sempre pousavam no mesmo muro amarelo.
Um dia tiravam o muro amarelo e construíram casas e os pássaros deixaram de aparecer. Até até hoje a criança procura aqueles bichos pretos e grandes para perguntar o que eles faziam em cima do muro amarelo.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri