Era um bando de meninos a percorrer a pequena cidade que acorda de madrugada com a música dos ferreiros. Carregados de sonhos e com suas mochilas nas costas, pedalavam de mato a mato para fazer balançar as bandeiras de igualdade e fraternidade, porque queriam ver como diz a música “os meninos e o povo no poder”.
Os meninos plantaram flores, algumas murcharam; outras continuam brilhantes, como olhos carregados de esperança.
Foi na batida do beatbox e do martelo forjando o machado, na brincadeira do reisado de couro, na banda de guitarra e da musicalidade da enxada, foi nas entranhas do quilombo e no jogo de futebol, na poesia ritmada entre o erudito e o popular. Foi teclando ideias numa cidade em que se falava ao celular atrepado na janela, buscando não perder o sinal. Eram os meninos conectando a pequena Potengi ao mundo.
Foi pelas redes do mundo, que em 2003, fincaram uma bandeira encarnada nos seus caminhos, entrelaçada pela foice e o martelo, que um verso de utopia se tecia. Os meninos sempre foram os tecelões, vasculhavam a Potengi de bicicleta e o mundo pelos teclados.
Um dia roubaram as bandeiras dos meninos e deixaram a cidade vermelha para embaraçar os sonhos e a realidade, logo o vermelho desbotou, aparecendo uma cor capital. Os meninos continuaram tecendo a terra, adubando caminhos e lutas, porque ideias não se roubam.
No dia 15 de novembro, Potengi amarelou de alegria, no início da noite. Os ferreiros, trabalhadores da madrugada, antecipavam suas batidas, eram os meninos voando com suas bicicletas e suas mochilas carregadas das histórias do nosso povo.
Edson Veriato, 34 anos, agricultor e com uma série de outras trajetórias é eleito prefeito de Potengi e nos ensina a voar de bicicleta, junto com os outros meninos.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri