O jogo começou faz tempo, ultrapassa os noventa minutos, mais de três mil mortes por dia. o Corpo sua, a bola corre. Falta oxigênio, vacina e comida. A esperança também parece faltar. O jogo continua, o corpo sua, a bola corre. Mais um corpo sai de casa e nunca mais volta, foi para intubação, parece até nome de lugar, intubação, desses lugares como o inferno, onde ninguém sabe onde é e sempre recomenda não ir.
O grito ecoa, é um xingamento de confraternização, alguém errou ou acertou, o corpo sua e a bola corre. Parece outro mundo, desmascarados tentam fazer da bola o seu mundo, numa corrida retangular e cheias de zig-zag, gol!
Mais gritos, a felicidade é estampada, parece até que está tudo bem. O corpo sua e a bola corre, o jogo não parou, as mortes continuam disparando, mas que os gols.
O que interessa mesmo é ver a bola sacolejar a rede do retângulo, e gritar: gol. Assemelhar-se até ao início da vida, onde a felicidade transborda. A vida é muito pequena quando transformada numa bola.
Deixar tudo parado, sem a bola correr e o corpo suar é proibido, assim atesta o decreto assinado pelo mundo umbilical.
O corpo sua e a bola corre, na arquibancada dos gabinetes, alguns comem caviar e riem com a notícia dos que foram para intubação.
Para além de intubação, já não tem mais jogo, a partida está definida, é preciso ir para casa e entender o que os cientistas estão dizendo para o corpo suar e a bola correr.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri