Oito de março chega sempre acompanhado de flores, mensagens inspiradoras e comerciais de perfume. Nas redes sociais, multiplicam-se homenagens exaltando a delicadeza e a força feminina. Mas, entre as rosas e os parabéns, há uma história que muitas vezes é esquecida: a de mulheres que lutaram — e ainda lutam — por direitos que deveriam ser básicos.
O Dia Internacional da Mulher não nasceu como uma data festiva. Surgiu das reivindicações de operárias do início do século XX, que enfrentavam jornadas exaustivas, salários miseráveis e condições indignas de trabalho. Foi o grito dessas mulheres que impulsionou mudanças, pavimentando um caminho que, embora tenha avançado, ainda está longe de ser justo.
Hoje, as conquistas são visíveis, mas as batalhas persistem. O mercado de trabalho ainda não paga igual para mulheres e homens que exercem a mesma função. A divisão das tarefas domésticas ainda pesa mais sobre os ombros femininos. A violência de gênero continua sendo uma realidade assustadora, e a liberdade de andar sozinha à noite ainda não é um direito garantido, mas um risco calculado.
Neste dia, entre o brilho das campanhas publicitárias e os discursos bem-intencionados, vale perguntar: o que realmente estamos celebrando? O direito ao voto, ao estudo, ao trabalho? Sim. Mas e os direitos que ainda precisam ser conquistados? A segurança plena, o respeito sem ressalvas, a equidade que não dependa de luta constante?
Oito de março deveria ser menos sobre presentear e mais sobre refletir. Menos sobre enaltecer a “força da mulher” como se fosse um fardo natural, e mais sobre construir um mundo onde ela não precise ser forte o tempo todo para sobreviver. Onde sua voz seja ouvida sem que precise gritar, onde seu espaço seja garantido sem que precise batalhar por cada centímetro.
Que os gestos simbólicos do Dia da Mulher não fiquem apenas na superfície. Que sejam acompanhados de ações concretas: oportunidades iguais, respeito genuíno, combate às injustiças diárias. Que os homens que hoje distribuem elogios também questionem seus privilégios e participem da mudança.
Porque, no fim das contas, o que as mulheres querem não são apenas homenagens ou frases bonitas. Elas querem respeito sem condicionantes, liberdade sem medo, igualdade sem asteriscos. Querem viver em um mundo onde o dia 8 de março seja apenas mais um dia — não um lembrete de tudo o que ainda falta ser conquistado.
E quando esse dia chegar, talvez possamos, enfim, celebrar. Não apenas o Dia da Mulher, mas o dia da humanidade, onde gênero não determine direitos, deveres ou limitações. Até lá, seguimos — e resistimos.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este artigo é de inteira responsabilidade da autora, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri










