Há algo curioso sobre as promessas: elas são leves quando saem da boca, mas pesadas demais quando não encontram pouso na realidade. As palavras se soltam com facilidade, carregadas de boa vontade, sonhos e intenções. Às vezes, até acreditamos piamente que faremos tudo que dissemos — “Vou mudar de vida!”, “Não vou mais errar!”, “Estarei lá, pode contar comigo!”. Mas o tempo passa, o mundo gira, e a promessa, que parecia uma pena ao vento, se transforma em um fardo de chumbo.
Há promessas que fazemos a outros e aquelas que sussurramos a nós mesmos, no silêncio de uma noite solitária. Elas ficam lá, guardadas em algum canto da mente, como um lembrete constante de que falhamos, de que poderíamos ter sido mais, feito mais. E, quanto mais o tempo passa, maior se torna o peso de não tê-las cumprido.
Eu me lembro de uma vez, quando criança, prometi ao meu avô que aprenderia a tocar violão. Ele sorriu, com aquele olhar sábio, sem pressa, dizendo que isso era um belo compromisso. “A música faz bem à alma”, disse ele. Anos se passaram, o violão continua encostado no canto do quarto, e meu avô já não está mais aqui para me ouvir tocar. O peso daquela promessa ainda me visita às vezes, nas manhãs silenciosas ou em momentos em que ouço o som de cordas dedilhadas por mãos mais dedicadas que as minhas.
As promessas feitas no calor do momento também têm sua carga peculiar. Como aquela vez que disse ao amigo que estaria presente em sua festa de aniversário, mas, por alguma razão banal, não fui. Parecia algo pequeno, irrelevante até. Mas quando nos encontramos depois, a forma como seus olhos buscaram os meus por um instante, antes de desviar rapidamente, me fez perceber o peso que aquela ausência teve. Não era sobre a festa, afinal. Era sobre a confiança depositada nas palavras, sobre o fio invisível que une as pessoas.
As promessas não cumpridas, essas pequenas traições de nós mesmos, às vezes nos perseguem. Elas se acumulam como roupas velhas no fundo do armário, que um dia pensamos em usar, mas que agora parecem não nos servir mais. Ficamos com o incômodo da memória, mas sem a chance de voltar atrás. E o que fazer? Pedir desculpas, talvez. Mas o perdão alheio, por mais sincero que seja, não alivia o peso interno que carregamos.
E, com o tempo, aprendemos. Ou ao menos deveríamos. Aprendemos que prometer é mais do que um ato de boa vontade, é uma responsabilidade. Que as palavras, uma vez soltas ao vento, têm o poder de construir pontes ou abismos, de conectar corações ou deixá-los suspensos no vazio. E que, para nosso próprio bem, é preciso pensar duas vezes antes de dizê-las, porque cada promessa é um pedaço da nossa alma entregue ao outro.
Prometer é fácil. Cumprir, esse é o verdadeiro desafio. E, no fim das contas, talvez o segredo esteja em prometer menos e agir mais. Quem sabe assim o peso que carregamos seja mais leve, e as promessas que escolhemos fazer sejam aquelas que realmente valem a pena.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este artigo é de inteira responsabilidade da autora, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri