A história das narrativas humanas revela uma intensa guerra entre o conhecimento e a ignorância, entre a civilidade e a barbárie, sempre tendo como pano de fundo o poder e os seus mecanismos de dominação. A evolução sistemática da civilização é marcada por profundas cicatrizes sociais, por conflitos intensos entre os mitos sagrados e a busca pela compreensão do que realmente é o universo. A contemporaneidade não foge ao seu papel de registrar o fluxo intenso dessa realidade, agora, de forma descontínua e fragmentada, criando um descomunal labirinto de informações, de saberes, de habilidades, de competências, bem como de um vácuo extremamente fértil, onde nascem e se proliferam os agentes da bestialidade.
A formação da sociedade sempre foi pautada na construção de estruturas que viabilizem a supremacia de poucos, em detrimento de muitos. Desde o surgimento das tribos primevas o ser humano tem conhecimento e experiência com os rudimentos dessa economia de pertencimento. Com efeito, a escravidão e a subserviência, em todas as suas matizes, fundaram os mecanismos de manutenção do poder. Nesse contexto, o medo e a proteção contra o medo têm sido fundamentais para entronização de diversos estamentos, em que o ser social se sente compelido, de forma inconsciente e prazerosa, a ser gado, a ser ovelha, a ser manada, a ser a massa falida, sem arrependimentos e com convicção.
Sendo assim, a religião se tornou a maior força da cegueira material e imaterial da humanidade, através do secularismo conservador: origem dos preconceitos; da sustentabilidade do patriarcalismo; do racismo; da homofobia; dos genocídios; da misoginia; da autoridade e dos autoritarismos; origem da sistematização da tortura e de todos os processos de conversão ao atraso grotesco. Tendo a palavra revelada de Deus, o insofismável, capaz de criar o céu e o inferno, com todo o seu poder de vingança, a religião tem como sua obra maior confrontar o esclarecimento e capacidade de discernir que a ciência possa produzir no sentido de libertar o ser humano dessas amarras, que impedem a luta pelos direitos humanos e das consequentes políticas sociais de reconhecimento do próximo, sem qualquer espécie de exclusão, inclusive econômicas.
Nem mesmo o hipercapitalismo; o hiperconsumismo; a hiperprodutividade; e a hipertecnologia; foram desconstrutivos o suficiente para acabar com a hegemonia da manipulação do divino e sua contínua prática de impor a docilidade do corpo e da mente, para o controle comportamental e o apascentamento da exploração político-econômica, além da alimentação retroativa de uma sofisticada massa de manobra. Ao contrário, as renovadas forças de escravização social, tendo como gestor os proprietários dos grandes conglomerados financeiros, se alinharam aos ditames canônicos religiosos, para um paulatino desmantelamento dos preceitos racionais do conhecimento humano, transformando a educação em produto. De fato, o fracasso escolar mundial tem produzido a maior aberração da história da humanidade: a imbecilidade histérica.
Por Marcos Leonel – Cidadão do Mundo
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