A sociedade de consumo é estabelecida pelo conceito do sucesso ou a decepção destrutiva. Os técnicos do sabe nada, com sua leitura rasteira, ajudam no aumento das angustias individuais, pois se apresentam como solução para tudo da sua existência fedida e entregue ao gasto. O saber por qual mecanismo do consumo ostensivo chega a engendrar as novidades em sucessão que fazem a moda, ou seja, por que, durante milênios, não desencadeou, de algum modo, a loucura dos artifícios. O que separa as eras de moda das eras de consumação transloucada na estabilidade depende apenas da obrigação de despender ocasionada pelas condições criadas no cosmopolismo urbano do pós segunda guerra.
A decepção não é um fenômeno próprio só de nossa sociedade, ela acompanha a condição humana. As sociedades modernas individualistas possibilitaram um sonho de uma felicidade crescente para todos. A democracia abriu caminho para o mito da felicidade coletiva. A sociedade de consumo propõe, incessantemente, novos desejos. Podemos e queremos cada vez mais. Nas sociedades tradicionais, havia a infelicidade, claro, mas ela era ligada a Deus, à ordem das coisas. Agora, sofremos por não ter nossos desejos satisfeitos e não compreendemos por que não somos felizes. Não conseguimos alcançar tudo. A vida privada se tornou muito complicada e ao mesmo tempo exposta pelas redes sociais. Antes, casamentos eram arranjados e casava-se para a vida toda. Isso não significava que as pessoas eram felizes, mas era assim. Hoje, você vive com alguém que escolheu. Numa sociedade que reconhece o amor como o princípio da vida em comum, temos aí um fator de decepção. Não podemos amar sempre. Há também a vida profissional, que exige coisas que você não pode cumprir. Ou, às vezes, essa vida profissional é uma rotina. E a globalização cria condições intensas de competição, exigências. Nem todos se saem bem. Assistimos então a uma mistura de decepção, frustração e ansiedade. Na sociedade individualista, cada um assume os seus fracassos. Nestas condições, o esbanjamento e exposição permanente e a corrida pela estima formulada impõem-se de modo a provocar a mudança permanente das formas aparentes do ser na sua insuficiência adquirida pelo consumo sem limites. A ideologia individualista pregada pelos ardentes defensores da famigerada e mentirosa meritocracia e a era sublime do consumo são assim inseparáveis; culto da expansão individual, do bem-estar, dos gozos materiais, desejo de liberdade, vontade de enfraquecer a autoridade e as coações morais: as normas “holistas” e religiosas, incompatíveis com a dignidade do dispêndio, foram minadas não só pela ideologia da liberdade e da igualdade, mas também pela do prazer, igualmente característica da era individualista.
Se você não tiver ferramentas culturais, profissionais, resta-lhe apenas o consumo. Se você não sabe o que fazer, liga a tv, vai ao supermercado, não tem mais nada na vida. A ética que deveria ser desenvolvida é a da formação. É um ideal humanista, simplesmente. Os pais formam filhos para realizar algo. Precisamos oferecer uma formação melhor às pessoas e, talvez, também mudar a gestão das empresas para que a competitividade não destrua totalmente o ser humano. Ela pode ser uma ferramenta para o progresso, não uma finalidade. Devemos buscar equilíbrio entre mercado e estado, economia e geossistemas, consumidor e produto, vida privada e profissional.
O que hoje se apresenta como solução é, na maior parte, mentira pois é uma falácia supor que a meritocracia pode torna-se o significado e o vencer o objetivo. Não obstante, a maior parte dos coaching passam o seu tempo em exibições auto complacentes de si mesmos ou de estórias criadas pelo mentores do consumismo. Não há telepatias, nem fantasmas, nem discos voadores….nada disso existe, a não ser a lei do ferro fundido. Não conte com discos voadores: seria muito empolgante. Não existe Triângulo das Bermudas. Existe apenas o triângulo A’, B’, C’ e D’…
Por Sandro Leonel. Professor formado em Geografia na Universidade Regional do Cariri (URCA)
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri