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O bigode de Mona Lisa – Por J. Flávio Vieira

Colunista escreve semanalmente no Revista Cariri

26 de junho de 2022
O bigode de Mona Lisa – Por J. Flávio Vieira

(Arte: Eduardo Kobra/© Todos os direitos reservados)

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A mãe grã-fina dividia os dias entre o salão de beleza, a academia, o spa e o shopping. Casada com um empresário do ramo de franquias, não tinha muito do que se preocupar. Os filhos, duas meninas adolescentes e um guri de uns oito anos, tinham aquela criação distante e insulsa: pareciam pets. A babá, as professoras da escola e do reforço tomavam de conta da tropa. A mãe os visitava, de vez em quando, nas atividades, mantendo distância regulamentar, para não amarrotar o vestido chique e borrar a maquiagem. Um dia, contratou um pintor famoso para fazer o seu retrato. E ali passava ela o dia, na sala grande do apartamento, estática, posando, enquanto o artista ia preparando a obra de arte que seria exposta na sala de estar, como uma relíquia. O menininho, passava de um lado para outro, como que chamando atenção da modelo, pedindo desvelo e colo, mas era, sob protesto, enxotado pelos serviçais do ateliê improvisado. Terminado o gigantesco óleo sobre tela, a grã-fina postou-a no cavalete e cobriu com um véu, aguardando a chegada do esposo, para mostrar-lhe a Mona Lisa remasterizada. Ansiosa, com a chegada do marido, conduziu-o, imediatamente, para que inaugurasse a obra enfim finalizada, após tantos meses. Quando o esposo descerrou o véu, a mãe desmaiou. Pedrinho tinha, sorrateiramente, num descuido do artista e da genitora, colocado um enorme bigode mexicano na mãe. Freud não teria dificuldades de explicar a iconoclastia de Pedrinho.

Este preâmbulo verdadeiro, remete-me, meteoricamente, aos pichadores de edifícios e monumentos nas cidades grandes. Emporcalham as paredes, estátuas e prédios com riscos caóticos e negros. Quanto mais inacessíveis e perigosos os locais, mais admirados procurados e perseguidos. A população não consegue entender aquela tentativa de enfear ruas e logradouros, nublando as paisagens com hieróglifos inelegíveis e símbolos inescrutáveis. Como Pedrinho, há, sim, justificativa psicológica para seus atos. Fazem um protesto contra um mundo a que não têm acesso. Como o Cobrador do conto de Zé Rubem, cobram da sociedade lazer, educação, acesso aos bens culturais e de consumo, dos quais são cruelmente alijados. É como se demarcassem um espaço: isso não presta, isso não serve, isso me foi sonegado.

Consigo compreender as razões de Pedrinho e dos grafiteiros de plantão. A Arte tem também uma função de protesto, de escancarar injustiças, de instigar mudanças e transformações. Aquele grito que patenteia aos quatro ventos: — Parece legal, né? Mas isso está uma merda e precisa ser implodido. A mim, no entanto, prefiro os que procuram os caminhos transformadores da poesia para alertar, para esporar o corcel da transformação, com mais sutileza e leveza. É como se os pichadores utilizassem martelos e machados e os grafiteiros cinzéis e pincéis na reconstrução do seu mundo quimérico. Alguém pode até postar-se a favor do machado por sua eficácia e rapidez cirúrgica, mas teimo em acreditar que o caminho poético parece ser mais longo e penoso, mas é mais pedagógico e de maior perenidade.

Vi, recentemente, dois grafites aqui em Crato que, en passant, melhoraram meu dia. Defronte o Colégio Objetivo, alguém escreveu, em letras negras, para impressionar os que passavam, como um outdoor: “Os Dispostos se Atraem”. Um inteligente contraponto ao axioma: “Os opostos se atraem”. Na Bárbara de Alencar, naquele último trecho que desemboca na Prefeitura, um anônimo pichou: “A Vida Real acontece Off-Line”. Uma crítica doce ao terrível predomínio da tecnologia nos dias atuais, agudizado nestes momentos de isolamento pandêmico.

Tenho uma verdadeira veneração, por outro lado, àqueles artistas que fazem a chamada “Street Art” (Arte de Rua). Eles, como mágicos, conseguem transformar muros opacos, casarões em ruínas, arestas de prédios insalubres em gigantescos painéis e estátuas vivas. É como se se incorporassem Arthur Bispo do Rosário e passassem a recriar o mundo. Aqui, no Cariri, temos os gênios de Wanderson Petrova, Edelson Diniz e Guto Bitu. E o Crato gerou também um dos mestres brasileiros da arte como intervenção urbana: Sérvulo Esmeraldo. Em 2017, quando o governador de São Paulo, João Dória, mandou apagar os imensos painéis de grafites da Rua 23 de Maio, compreendi que aquilo era um crime contra a humanidade, comparável à vandalização em 1972, no Vaticano, da Pietá de Michelangelo.

Se alguém acha o grafite infame, se é da opinião que suja a cidade que lhe parece ideal, sempre é bom lembrar que a feiura não está na obra de arte, mas nas iniquidades e deformações que ela representa e delata. Quando Picasso fez o painel “Guernica”, denunciando um bombardeio de civis feito pelos nazistas em 1937, teria sido interrogado por um militar nazista: Foi o senhor que fez isso? Picasso, com a luz dos gênios, dirimiu, definitivamente, as dúvidas sobre a questão: “Não! Foi o senhor! Eu só pintei!”.

Não existe nada de errado no quadro aparentemente de mal gosto de um adolescente assassinado pela polícia, com a vermelhidão do sangue cobrindo, à Tarantino, a maior parte dos espaços, num realismo que se mostra acre , pontiagudo e cortante. O feio, o terrível, o grotesco estão no ato praticado e não na sua mera e ácida representação.

Por J. Flávio Vieira, médico e escritor. Membro do Instituto Cultural do Cariri (ICC)

*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri

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