Você lembra da história do Monge e dos discípulos “que iam por uma estrada e, viram um escorpião sendo arrastado pelas águas? então! O monge correu pela margem do rio, meteu-se na água e tomou o bichinho na mão. Quando o trazia para fora, o bichinho o picou e, devido à dor, o homem deixou-o cair novamente no rio. Mas de novo, o monge voltou à margem tomou um ramo de árvore, entrou no rio, colheu o escorpião e o salvou. Voltou o monge e juntou-se aos discípulos na estrada. Eles haviam assistido à cena e o receberam perplexos e penalizados.
– Mestre, deve estar doendo muito! Porque foi salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda! Picou a mão que o salvara! Não merecia sua compaixão! O monge ouviu tranquilamente os comentários e respondeu:
– Ele agiu conforme sua natureza, e eu de acordo com a minha.
Esta parábola nos faz refletir a forma de melhor compreender e aceitar as pessoas com que nos relacionamos. Não podemos e nem temos o direito de mudar o outro, mas podemos melhorar nossas próprias reações e atitudes, sabendo que cada um dá o que tem e o que pode. Devemos fazer a nossa parte com muito amor e respeito ao próximo. Cada qual conforme sua natureza, e não conforme a do outro. Como professor que tenho sido até hoje, não encontrei melhor forma de ser eficaz. E assim sendo, tenho ao longo dessa estrada tortuosa e cheia de buracos que é a Educação, obtido certo êxito. Não agradamos a todos é bem verdade! Mas fazendo o que é certo sempre, vendo possibilidades e compreendendo a diversidade de natureza de nossos alunos, aos poucos, tenho conseguido despertar neles algum sentido nas nossas práticas. Ouvindo um incentivo ali, um elogio acolá! E disso temos vivido, pois nem só de seu salário vive um professor; mas também dos afetos e respeito que vez por outra é demonstrado por alguns alunos.
Mas, nessa luta diária, às vezes sofremos baques! Não bastassem as adversidades históricas, ainda somos alvos de certas agressões, que embora não física, nos abala e nos machuca. Sim! Machuca! Os professores não somos heróis como os do cinema. inabaláveis, indestrutíveis! Aliás, aqueles que deveriam enxergar um herói no professor, tem enxergado um vilão! Estaremos falhando em nossas práticas? Ou simplesmente nossos alunos se encontram tão alienados que chegaram ao ponto de não enxergar o inimigo? Sinceramente, não sei! E mesmo com o coração machucado, vou continuar! Tirando água de pedra, num milagre diário! Nunca nivelando por baixo! Nunca dando pérolas a porcos! Como semeador que saiu a semear, vou eu e sei que parte da semente cairá em boa terra e produzirá por dez, por trinta, por cem, por mil! No final se edificará o que é bom! Afinal, sou professor e tenho que professar o meu ofício!!!
Por Francinaldo Dias. Professor, cronista, contador de “causos” e poeta
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri