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Luquital – Por J. Flávio Vieira

Colunista escreve semanalmente no Revista Cariri

16 de maio de 2020
Luquital – Por J. Flávio Vieira

(Foto: Reprodução/YouTube)

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Para Né Catingueira, o mundo tinha limites claros: não ultrapassavam as fronteiras do Pai Mané. Ah! Existia, sim, uma nesga de universo ainda, que se estendia até ao Crato e às terras sagradas do Padim. Mas aí já era coisa de lonjura, terra das estranjas como dizia ele. Cilistrino Mangabeira, seu vizinho e compadre, levava umas frutas e hortaliças para vender nas feiras do Cariri e foi ele que trouxe aquela notícia. O povo andava adoecendo e morrendo feito boi que bebia água e corria em roça de Tinguí. Uma doença vinda das outras beiradas da terra, um lugar de gente de olho puxado como se tivesse o tempo todo com dordolho. Cilistrino disse que só agora entendeu aquela roga de praga : “Vá pra China! A moléstia parecia um “defruxo”, mas dava um puxado danado e o cabra morria sem fôlego, como estivesse se afogando em açude barrento.

Né, que vivia puxando terra pros pés, na rocinha, não viu diferença no mundo. O inverno tinha sido bom, o paiol estava cheinho e tinha um criatoriozinho de galinha e de bode que dava pro gasto. Já o compadre Cilistrino sentiu o baque. Não tinha mais onde vender as mangas, as pitombas, o cheiro verde, o alface. Catingueira, no entanto, como todo pobre, mostrou-se solidário. Enquanto tiver paiol, meus amigos não passam necessidade! Depois de uns quinze dias de aperto, Cilistrino deu a boa notícia. O governo ia liberar uns seiscentos reais para ajudar os que andavam mais lascados do que facho de caçador de tatu. Né, experiente, cismou.

— Governo dando alguma coisa? E ele entende lá desse ramo? Num só faz é tomar, não ? Vai ter eleição, é? Cilistrino, Cilistrino! Abra do olho, homem de Deus! Ele tá querendo é levar matuto pro cheiro do queijo!

A partir daí começou a via sacra para receber o tutu. Primeiro tinha que entrar numa tal de internet, usar um aplicativo! Que diabos é isso? Esse bicho é raceado com arupemba, cabaça, aribé? Depois que pagaram uma propina para uns pracianos resolverem a pendenga, os compadres tiveram que dormir na fila por umas três noites. E Né vaticinou novamente:

— Benefício vindo de governo dá popa de todo jeito! É contramão, todavia, Cilistrino! É mais difícil que exame do, ave-maria três vezes, tal de Bolsonaro! Pra botar a mão na merreca, tem que lavar o fiofó em nove água.

Tiveram que comprar umas máscaras pra poder ficar na fila da Caixa, o segurança exigiu. Quando Catingueira viu aquele mundo de gente mascarado, avisou ao amigo que a conclusão que tirava é que o governo tinha certeza que aquilo era um assalto, por isso mesmo tiveram que vir tudo daquele jeito para, depois, não poderem ser identificados.

Finalmente conseguiram arrancar, a ferro, o dinheiro do governo. Prevenidos, gastaram tudo no mesmo dia, numa feira grande que entocaram em casa. A ordem, dessa vez, veio do mascate Cilistrino:

— Compadre, vamos gastar logo a merreca toda! Esmola grande , na bacia: cego desconfia! Vai ver que esse governo se arrepende e resolve passar marcha ré!

Dias depois, uns estudantes chegaram no Pai Mané trazendo a informação privilegiada que o governo tinha decretado no Crato o lockdown. Catingueira procurou, rápido, o compadre e resolveram ir imediatamente para a cidade. Arriaram os burros, na manhã seguinte, e partiram! Quando chegaram na ponte da Batateira deram com uma tropa da polícia. Já ficaram desconfiados, como vira-lata em noite de São João. Pensaram em correr, mas entenderam que seria pior: a polícia tinha motos velozes e rápido os alcançaria. Que jeito! Enfrentaram o perigo e esperaram chegar a vez. O guarda ao vê-los, meio pálidos e trêmulos, perguntou o que eles iam fazer no Crato, pois estava proibido entrar sem uma razão clara e justificável.

— O que é que vocês vêm fazer aqui no Crato?

Cilistrino, mais desasnado, com voz de camelô, tentou desenrolar:

— Seu guarda, nós já recebemos o dinheiro do governo e agora soubemos que vai ter mais e viemos correndo!

O militar informou que teria outra parcela, sim, mais só daqui a um mês. Tivessem paciência!

Cilistrino disse que soube que tinha mais uma ôiazinha, antes da segunda parcela.

— Que ôia, seu Cilistrino, eu não tô sabendo disso não!

— Oxe! Seu guarda! Não se faça de abestado, não! Nós num somos matuto, mas num somos lesados, viu! Agora saiu o LUQUITAL, o senhor num tá sabendo, não?

Rindo, o soldado tentou explicar que o nome era uma ingrisia: Loquedau. Aquilo era uma ordem do governo para todo mundo ficar preso, sem transitar pelas ruas, para evitar que o vírus se espalhasse. Não houve tempo dos compadres ouvirem direito. Saíram numa desabalada carreira, saltaram a ponte e ganharam o areal do Rio Batateiras. O soldado ainda ouviu o comentário de Catingueira, antes de dobrarem a primeira curva do rio.

— Corre, compadre, corre! Eles querem é prender nós! Bem logo vi que iam jogar a culpa dessa doença em cima dos lascados que receberam os seiscentos! Os seiscentos mile cão! Eu num disse que tinham armado era um fojo pra nós?

Por J. Flávio Vieira, médico e escritor

*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri

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