Cutucava os bolsos esburacados da calça, enquanto olhava as estrelas. Dias de preocupação. Som estridente e repetitivo, anunciava um candidato, nome e número, nada mais. Nenhuma proposta. Bandeiras tremulando em mãos desempregadas e rostos encardidos de descrença.
A noite prosseguia. O candidato tinha pseudônimo de porco e pose de coronel. Alto, branco e de bigode, nos lombos uma tonelada de prepotência. Dinheiro solto, magia para juntar gente e vencer eleições, tudo está à venda, inclusive, a mentira.
Depois da parafernália sonora, silêncio. As ruas coloridas de cara, nome e número faziam tapete numa paisagem deserta de esperança.
As crianças se reuniam, juntavam cara, nome e número. A única certeza que tinha eram as cartas para o jogo de bafo.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri