Sempre me senti muito entusiasmada quando imersa no campo acadêmico, e hoje gostaria de compartilhar com vocês, uma experiência e impressão incrível vivida em uma das minhas visitas à Universidade de Stanford localizada na Califórnia, Estados Unidos. Em todas as minhas visitas ao campus busquei explorar as opções de acesso das quais me permitiram diferentes percepções. Acredito que as impressões de um lugar são importantes e que a arquitetura abrange muito mais do que um planejamento e materialização de projetos, ela nos envolve e nos influencia nas emoções, faz parte muitas das vezes da nossa memória afetiva e produz sensações no qual podemos nos sentir acolhidos em um lugar. Ao meu ponto de vista, a arquitetura é a comunicação e materialização da história que dialoga conosco, é a forma gravada ou esculpida de um estilo que mantém-se eternizado capaz de permanecer em dois universos paralelos ao mesmo tempo, o que já aconteceu e o atual.
Dois dos possíveis acessos, optei pelas vias locais espalhadas por trás do conjunto principal das edificações, no qual localizam-se também as residências e outras comodidades destinadas aos estudantes; a outra e de maior movimentação por turistas, refere-se à uma avenida principal que proporciona uma vista estonteante e geral do cenário.
Produzindo uma perspectiva de um único ponto de fuga, as edificações reúnem-se e o olhar direciona-se automaticamente à uma fachada formada por três arcos pertencentes a um extenso hall que conecta alguns edifícios. Resguardado por trás destes arcos, encontra-se a capela com um exterior rico em ornamentos, imagens de santos e arabescos que mesclam perfeitamente aos tons de dourado e ao conjunto de sete vitrais. No topo do telhado que à primeira vista parece ter somente duas águas, há uma cruz.
Ainda dentro desta perspectiva parte dos elementos arquitetônicos pousam por trás de um imenso gramado cortado por vários caminhos de passeio e um grande canteiro central de plantas. O panorama rico em detalhes e cores, está centralizado de forma harmônica dentre uma extensa plantação de coqueiros avistados de imediato pelos que atravessam a larga e extensa avenida em direção ao campus. Lá estão localizados algumas das instalações como: salas de aula, a capela, o memorial Herbert Hoover, a galeria de arte, a biblioteca e a Torre Hoover. Nesta abordagem será enfatizada a importância histórica da Torre Hoover e a caracterização do estilo arquitetônico no qual esse conjunto de obras foram inspirados.
Considerada um marco para a Universidade de Stanford desde 1941, a ‘Hoover Tower’ foi encomendada em celebração ao 50º aniversário da instituição e recebeu este nome em homenagem à Herbert Hoover (1874-1964), 31º Presidente dos Estados Unidos e membro da primeira turma de formandos da universidade em 1895. A torre faz parte de uma das edificações de Stanford e situa-se próximo ao memorial Herbert Hoover e ao centro administrativo da universidade.
A edificação foi projetada pelo arquiteto Arthur Brown Jr. e abriga uma crescente coleção de materiais de pesquisa relacionados à economia global, relações internacionais e de guerra. Como forma de obter-se o melhor aproveitamento possível no interior da torre, foram construídos mezaninos entre os níveis principais no intuito de acolher o extenso acervo de documentos. (nove dos 14 pavimentos, são destinados ao acervo da biblioteca)
A torre é o foco arquitetônico do campus e certamente o mais visível ao longe. A estrutura composta por aço e concreto possui um telhado abobadado revestido por telhas de barro vermelha e teve como inspiração o estilo Art Deco. Com uma altura de aproximadamente 87 metros distribuídos em 14 andares, disponibiliza aos visitantes uma sala de observação localizada no último andar acessível através de elevadores. Do último pavimento a vista de 360 graus é deslumbrante e faceia o sul da baía de São Francisco.
A Art Deco é um estilo artístico que fez parte do Modernismo e reproduziu-se em diversos campos como arquitetura, moda e design industrial. Teve inúmeros representantes de destaque como os arquitetos William Van Alen e Walter Gropius. Este estilo é caracterizado através da utilização das formas simples e orgânicas que surgiram na Europa e chegaram aos Estados Unidos somente na década 1930. O uso da figura feminina, animais e da vegetação também compunham os detalhes deste estilo. Os produtos de alto luxo eram voltados à burguesia e utilizavam marfim, jade e laca na fabricação de móveis, por exemplo. As edificações ganham ornamentos em bronze, mármore, prata, marfim e outros materiais nobres em seus acabamentos.
Após algumas pesquisas descobriu-se que o primeiro pavimento da ‘Hoover Tower’ havia sido dedicado ao monitoramento de transmissões militares estrangeiras durante a Segunda Guerra Mundial e posteriormente serviu para a gravação de programas de rádio como “A riqueza do Ocidente” que abordavam assuntos públicos da época. Já o 13° pavimento serviu de abrigo para um aparelho de grandes proporções chamado “caixa de música”. O carrilhão que fez parte da Feira Mundial de 1939 em Nova York, foi dado como presente à Hoover pela Fundação Educacional Belga-Americana localizada na Bélgica e havia sido utilizado regularmente até o jogo ter sido avariado pelo terremoto Loma Prieta, em 1989.
Só em 2000, os 35 sinos originais foram enviados à Holanda com o intuito de aprimorar e restaurar as qualidades musicais. Onze foram substituídos e 13 outros foram acrescentados para alcançar uma maior precisão tonal. Hoje os que visitam o interior da torre, terão a oportunidade de observar lá no topo, um carrilhão de 48 sinos com o alcance de quatro oitavas.
A Universidade de Stanford em sua totalidade reflete uma riqueza histórica e arquitetônica imensurável, é a materialização de um momento histórico que perdura até os dias atuais percorrendo o tempo e superando catástrofes naturais, disseminando sua filosofia de ensino com compromisso, responsabilidade e incentivando na busca incessante do conhecimento.
Inspirado em: http://visit.stanford.edu, https://www.revolvy.com, https://www.argcs.com
Por Gabriela Gomes. Apaixonada pela Arquitetura e o Urbanismo. Acredita em uma arquitetura participativa como uma ferramenta capaz de provocar mudanças e promover a inclusão social. Por um Urbanismo sustentável e inteligente. Juazeirense, reside atualmente em San Jose, CA
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri