Ultimamente tenho me indagado sobre em que concepção de Deus tenho professado minha fé. Creio em que a fé na vida de um homem é algo fisiológico. Embora pareça loucura, já que seu conceito está mais para a metafísica, eu discordo. E reitero, a fé é fisiológica, e assim o é porque é orgânica. Não se concebe uma existência sem fé, e quando olhamos pelas mais diversas formas de se ter fé, chegamos a uma conclusão de que o que digo aqui é verdade. Não sei se a melhor verdade, já que também acredito em que há múltiplas verdades. O que creio é que Deus é tudo, ou está em tudo, não apenas na beleza do sorriso de uma criança, Ele também está na revolta e em tudo que a causa. Eu penso nisso e só de pensar Ele se revela.
Também tenho pensado muito sobre morte e vida, nesta ordem. E lendo sobre a filosofia estoica, li que o filósofo Sêneca diz, em carta ao seu amigo Luciolo, que “a maioria dos homens míngua e flui em miséria entre o medo da morte e as dificuldades da vida;”. Talvez isso se deva porque não nos damos conta de que o que chamamos vida seja exatamente o percurso até à morte. Ou quem sabe esse pensamento seja fruto da minha fase de maturidade de um homem. Quando muito jovens não nos preocupamos muito com estas questões, há somente vida, é o que acreditamos. Contudo às margens da meia idade, vendo os amigos contemporâneos partindo, certas reflexões são inevitáveis. A palavra não é medo, mas necessidade de compreender que o que não está sob nossa tutela não depende de nós. Então nos voltamos para o que nos está tutelado, cuidar do corpo, da saúde mental, e principalmente aceitar que a morte é inevitável, portanto, deve-se viver em paz com essa ideia.
Não há vida sem morte, não há vida sem fé. E por nos apegarmos demasiadamente ao conceito de vida materialista é que alimentamos a fé na concepção dogmática. Confundimos razão existencial com o materialismo e renunciamos às atitudes afetivas. Abandonamos a razão espiritual que nos mostra que se a vida é passageira devemos aproveitá-la de maneira a usufrui-la em todos os seus aspectos bons. Essa atitude envolve entender que somos apenas um fio na multiplicidade de existências e implica o exercício de pôr-se no lugar do outro. Não há vida na individualidade, não se morre sozinho, quando partimos aqueles que nos amam partem um pouco com a gente quando ficamos com eles em suas saudades, e humanamente só sentimos saudades do que foi bom. Sejamos bons!
Por Francinaldo Dias. Professor, cronista, contador de “causos” e poeta
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