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Espinhosa em Matozinho – Por J. Flávio Vieira

Colunista escreve aos domingos neste espaço

22 de novembro de 2019
Espinhosa em Matozinho – Por J. Flávio Vieira

(Foto meramente ilustrativa)

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Toda cidadezinha interiorana que se preze tem lá os seus filósofos de pé de calçada. Forjados nas lidas do tempo, temperados na estrada da vida, eles vão, dia após dia, criando uma filosofia própria e particular, capaz de trazer luz em momentos de maior perplexidade. Em Matozinho, isso não era diferente e o maior deles, o mais consultado e reverenciado tratava-se de Tutu Espinhosa. O homem viajara por Seca & Meca, trabalhara na marinha mercante, singrara por muitos mares e só quando aposentou a âncora e o anzol resolveu voltar para Matozinho. Barbas brancas, gestos medidos milimetricamente, Tutu tinha uma incrível paciência na arte de escutar. Vezes acreditava-se que o homem sofria das oiças ou era meio lesado, como se tivesse fumado maconha quiabada. Matutava ao ouvir os problemas que lhe chegavam ao oráculo e só depois de muitos minutos saltava com a resposta que, em geral, tinha precisão cirúrgica e saltava de uma comparação objetiva e pragmática, bem difícil de ser contestada.

Espinhosa morava sozinho em uma casa simples na saída para Bertioga. Tivera muitas mulheres, segundo consta ( uma em cada porto), mas , com o peso dos anos, terminou por decidir carregar o fardo só. Dizia sempre: Já que algumas vieram antes e, depois de comerem a coalhada, foram embora, não é justo arranjar alguém agora pra beber só o soro!

O certo é que Tutu funcionava como um conselheiro em Matozinho. Suas soluções aos problemas mais complicados passaram a ser registrados nos arquivos linguísticos da vila, passando de geração em geração. Inclusive terminaram por criar uma certa jurisprudência, uma espécie de Suna, sacados em outras situações similares.

O velho Pedro Cangati, possuidor de uma récua de filhos, escolheu o mais inteligente para ir estudar na capital. Resolveu dar diploma ao menino e justificava a iniciativa, sem nenhum pejo: Vou formar esse menino advogado que é pra ele sustentar eu e minha mulher quando a gente estiver velhinho e sem mais poder trabalhar. Tutu elogiou a iniciativa mas os dissuadiu da expectativa.

— Seu Pedro, formar filho é uma coisa especial. Mas cuidem vocês mesmos de arranjar escapatória pra velhice, viu? Tirem o cavalinho da chuva! Tu já viu, alguma vez nessa vida, passarinho novo dando comida em bico de passarinho velho?

Tutu foi responsável pela melhor definição dada a um político de Matozinho. Cocisfran Medanha lançara-se candidato a prefeito uns três anos antes do pleito. Zoadava pelos cantos das ruas, prometia mundos e fundos. Não perdia qualquer evento: renovação, aniversário, quermesse, entronação de santo, velório. Fez-se especialista em pagar pequenas promoções: rodadas em mesa de bar, bolas de futebol, velas para procissões. Carregava em um dos bolsos notas de dois reais e no outro de cinco (cota máxima de patrocínio que estabelecera). Nunca dava um não. Qualquer pendência maior, fazia quebra de asa, protelava para datas mais longínquas. Os eleitores perceberam, rápido, suas maquinações: muita fumaça e pouco fogo. Perguntaram ao nosso filósofo um diagnóstico de Cocisfran e a conclusão não poderia ser mais concisa e exata:

— Olhe! Cocisfran é uma soca-soca toda especial. Com ele não se mata passarinho. Ele só tem a espoleta! Não tem pólvora nem chumbo!

Quinca Jurumenha , já entrado na oitava década, enviuvou. Nos primeiros meses, o velho murchou, retraiu-se, parecia que ia seguir , em poucos dias, os passos de D. Minervina. Depois de uns seis meses, no entanto, tirou o fumo da lapela, criou marra , cobriu-se de perfume e talco Rossi e partiu para a luta e para caça. Logo, logo, encontrou uma pretendente de uns dezesseis anos que se botou pra cima de Quinca como o boi botou em Mestre Alfredo. O capim novo caiu no cocho de Jurumenha como mel em beiço de diabético e o velho se assanhou. Criou sustança nas canelas, apaixonou-se e marcou casamento. Os familiares tentaram, a todo custo, mostrar para ele os perigos inequívocos da empreitada. “Ela quer é tua pensão, Quinca! Acorda! Salta desse barco, seu maluco!” O noivo, no entanto, pensou com sua braguilha: E pra que diabos mesmo eu quero essa pensão? Pra deixar pra quem, pra gastar com coroa, com vela de sete dias e missa de corpo presente? Perdido por um, perdido por mil! Pelo sim, pelo não, Quinca resolveu consultar o experiente Tutu. Procurou-o e informou a situação. Casamento marcado com menina de dezesseis anos, ele com oitenta e lá vai pedrada. Que que tu acha, Tutu? Espinhosa ruminou um pouco, com os olhos fitos no telhado e, depois de alguns minutos, matou a charada.

— Quinca, tu entrou agora mesmo no açougue de Ramon. O homem matou um boi erado. Logo na frente do balcão ele botou a cabeça do bicho para vender. Mais atrás a carne traseira tá exposta nos ganchos. Logo mais atrás, no fundo, a parte dianteira e, finalmente, lá no fundo da quitanda, dependurada num cantinho, bem longe, a rabada. Pois tu tá mais ou menos assim, Quinca, nesse momento.

— Assim, como? — Quis saber o projeto de noivo.

— Desse jeitinho, Quinca. De frente de tu, bem pertinho, o chifre facim danado de pegar. Lá longe, bem longe, difícil de botar a mão como o diale, a rabada. Tu tá muito mais perto das pontas do que do rabo. Desse jeitinho, homem de deus!

Semana passada, na TV da praça de Matozinho estava passando um programa eleitoral. No meio apareceu Ciro Gomes. Falou bonito danado, com uma facilidade de camelô de feira. No meio, no entanto, do seu conversado, começou a lascar o pau em todo mundo: no presidente, no ex-presidente, nos prefeitos, nos senadores, nos deputados, no padre, no bispo, nos vereadores, no papa, no pastor, no síndico do prédio, na polícia, no exército, num passarinho que passou tirando fino na careca dele. Todos na praça comentavam a desenvoltura do político: desarnado, palavra fácil, discurso aprumado, entonação de locutor de FM. Alguém, da roda, então, resolveu perguntar a Tutu o que ele achava do Ciro Gomes. Nosso filósofo sintetizou:

— Cabra inteligente da peste! Devia ser mascate. O difícil para política é que ele tem labareda demais e extintor de menos. O problema dele é um só: ele sabe acender a broca nos quatro lados da roça, mas esquece, sempre, de antes, fazer os aceiros.

Por J. Flávio Vieira, médico e escritor

*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri

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