Iniciar a faculdade, estudar na madrugada, aprender diversas linguagens de programação, estar em dias com as tecnologias usadas, acompanhar tendências do mercado e beber café, são uns dos grandes dilemas na vida de um desenvolvedor de software. Em muitos casos a mesma “sequência” é seguida mas sem a fase inicial da graduação superior.
Todo profissional que quer trilhar a sua carreira dentro de grandes empresas ou até mesmo startups precisam enfrentar árduas entrevistas de emprego. O processo de entrevista vai de acordo com a cultura de e necessidades (ao menos este é o mundo ideal) de cada empresa, infelizmente muitas buscam replicar os mesmos meios aplicados em empresas de grande porte somente para tentar mostrar status ou (como na maioria dos casos) por pura ignorância. O tipo de entrevista comum para a área de desenvolvimento de software entre as empresas do vale do silício possuem durações de 4 a 8 horas, e em muitos casos podem levar dias, porém é comum que os trabalhos a serem realizados possam não condizer com o nível da entrevista, muitas vezes nem mesmo com o que está na descrição da vaga.
O simples fato de que empresas de grande porte do vale do silício aplicam essas dinâmicas não quer dizer que os contratados sejam os melhores, é comum vermos pessoas que se destacam na resolução de problemas matemáticos, estrutura de dados ou sabem desenvolver de cabeça o algoritmo de Dijkstra, mas sem a mínima noção de design ou arquitetura de software, quiçá habilidades sociais (soft skills).
Acredito que o momento da entrevista pode ser crucial para a empresa, não somente para “filtrar” candidatos que não atendem tecnicamente, mas também para avaliar a índole dos entrevistadores. É no momento das entrevistas que a maior parte dos conflitos de interesses por parte dos entrevistadores aparecem, sejam desde forçar a recusa de um candidato para dar vez a um amigo, ou por falta de empatia, ou por enxergar ali uma boa oportunidade de mostrar para seus gestores de que ele (o entrevistador) é peça chave para a empresa. Estes comportamentos são tidos como “normais” para os tempos atuais, dado à grande concorrência e ego elevado no mercado de TI.
Com base na minha experiência tanto como entrevistado e entrevistador, cheguei à conclusão de que uma das melhores formas de se avaliar um desenvolvedor é pedindo-o para desenvolver um pequeno software utilizando algumas das tecnologias/linguagens exigidas na descrição da vaga, dando-o espaço para pensar, pesquisar, perguntar, etc. Após o término do desenvolvimento é interessante perguntar a origem das escolhas de padrões, nomenclaturas, melhorias, entre outras atividades inerentes à rotina real de trabalho. Desta forma é possível ter uma idéia não somente da parte técnica, mas principalmente da atitude, por outro lado o candidato poderá sentir um pouco da rotina e decidir se aquela empresa de fato se encaixa com o seu perfil.
Existem vários sites e livros que treinam os desenvolvedores para as entrevistas de emprego, é uma espécie de concurso público para empresas privadas, onde bons desenvolvedores (leia-se desenvolvedores que resolvem problemas reais) precisam estar praticando constantemente aquilo que em muitos casos nunca irá utilizar, para então concorrer com profissionais de baixa ou nenhuma experiência no desenvolvimento de produtos, mas com altos conhecimentos em truques de resolução de problemas de lousa. Acredito que chegou a hora das empresas prestarem mais atenção a desenvolvedores com boa atitude e não nos espertos, afinal não podemos mais cometer o erro de confundir ensino superior com educação superior.
Por Yrineu Rodrigues, juazeirense, desenvolvedor de software. Atualmente morando em San Jose, CA
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