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Domingo sombrio – Por J. Flávio Vieira

Colunista escreve semanalmente no Revista Cariri

5 de fevereiro de 2023
Domingo sombrio – Por J. Flávio Vieira
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“Sunday is gloomy
My hours are slumberless
Dearest, the shadows
I live with are numberless
Little white flowers
Will never awaken you.”

Rezsö Seress

AinLok passara a receber os telefonemas com mais insistência nos últimos dias. Estava em Cochabamba no Tomorrowland Rewind Festival. Era um dos DJ´s mais tradicionais do Brasil. Acostumara-se à mixagem manual com discos de vinil, manipulando frequências díspares musicais, cortando agudos daqui, exponenciando graves dali, até conseguir transições harmônicas novas, com um tempero próprio, em que podia assinar, tranquilamente, embaixo, como um arranjador de uma nova composição. AinLok detestava os modernismos dos últimos tempos, onde tudo passara a ser excessivamente eletrônico e bastava apertar o botão Sync para que a máquina substituísse, sem grandes perdas, a sensibilidade do DJ. O convite para o Tomorowland Rewind brotara justamente dessa sua aparente inadequação aos novos tempos das danceterias, quando o vinil passou a ser uma excrescência, um artefato retrô e destinado ao mofo. AinLok não tinha pejo nem pruridos em carregar, em cada nova apresentação, sua coleção de vinis, aquilo que os colegas, tranquilamente, já haviam de há muito substituído por pendrives. Sua música, diziam os mais especializados nas pistas, tinha, por isso mesmo, uma sabor único e especial, possuía uma marca, como uma tela de Renoir.

A insistência das chamadas acabou por vencer nosso DJ. Atendeu por fim, num anoitecer, antes da apresentação final no último e apoteótico dia do Festival. Era um amigo ainda dos tempos de escola. Há muitos anos não tinham contato. Vira-o, pela última vez, em uma Rave, no Recife, aí nos anos 90. Lembrou-se de Cupertino por uma característica marcante. Cupé tinha uma incrível coleção de vinis que vinha juntando, com uma determinação quase que religiosa, desde a adolescência. Metera-se no ramo imobiliário, juntara alguma grana, mas nunca ligara muito para questões patrimoniais. Visitara-o quando ainda era casado e babou diante da coleção de vinis que englobava quase toda a história fonográfica dos últimos setenta anos: Rock’n Roll, R&B, Disco, Hip-Hop. Quando se separou de Henriqueta, Cupé, na partilha de bens, exigiu, apenas a sua coleção de vinis. A esposa, nos embates sanguinários do divórcio, chantageou, demonstrando interesse nos discos do marido, um blefe que a levaria ao Royal Flush. Cupé saiu de casa apenas com suas caixas. Mudou-se para um outro apartamento, agora alugado, com a tranquilidade de quem fizera o melhor dos negócios.

AinLok demorou um pouco a identificar o velho amigo. Achou-o mais calmo do que sempre. Cupé, depois dos cumprimentos habituais, foi direto ao assunto. Cansara dos vinis e queria doá-los todos. Havia pensado muito, tinha-os como filhos. Sabia da transitoriedade da vida e temia, com seu desaparecimento um dia, que os discos fossem parar num sebo qualquer de ponta de rua. A coleção tinha um valor inestimável para ele, perfizera o significado básico de sua existência, o único tesouro que guardava. Sabia milimetricamente a história de cada um deles. Como conseguira, quem presenteara, que trilhas sonoras de sua vida iluminaram. Ali estava a enciclopédia sentimental de Cupé. Como num passe de mágica, bastava colocar uma música qualquer na vitrola e via-se teletransportado para a exata emoção que colorira sua vida num determinado instante. Nas mãos de outros, no entanto, que importância teria? Seria um estorvo, um beija-flor nas patas de um elefante. Resolvera, então, doar ao amigo Ainlok, que, como ele, amava os vinis e, mais, conseguia espalhar sua magia em estádios cheios de loucos que amplificavam os sons sob os efeitos de alguns ligantes pouco convencionais. Certo que os vinis não transfeririam seu poder mágico para o novo proprietário, mas tranquilizava-o a certeza de que estariam salvos e, mais, poderiam a partir dali reescrever nova histórias sentimentais. O DJ agradeceu, emocionado, o gesto do amigo de tantos anos. Tentou ainda dissuadi-lo, imaginando o tamanho da dor daquela separação. Cupé disse-lhe decidido e feliz, pediu apenas que recebesse a encomenda nos próximos dois dias. Seria seu aniversário e estava de viagem marcada para comemorar os 70 anos. AinLok falou da distância e do prazo tão curto. Estava na Bolívia e só retornaria uma semana depois. Sob insistência do amigo, deu um endereço de um primo residente num casarão em Olinda. Podia entregar lá. A casa era grande, ele morava sozinho e iria se comunicar com ele avisando da entrega.

AinLok retornou no prazo previsto. Uma semana depois procurou o primo em Olinda. A encomenda estava lá. Todos os vinis acondicionados em caixas de madeira de lei em perfeito estado de conservação. Apenas um disco estava, estrategicamente, fora das caixas, repousando em cima de uma delas. Um vinil de Billie Holliday de 1941: “Gloomy Sunday”.

Ainlok tentou ligar para Cupé a fim de agradecer o presente. Atendeu a irmã dele, com voz embargada. Na festa de aniversário, sozinho no apartamento, agora sem os discos, Cupé montara no corcel do MDMA e tinha feito a longa viagem comemorativa dos setenta anos, conforme planejara.

Por J. Flávio Vieira, médico e escritor. Membro do Instituto Cultural do Cariri (ICC)

*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri

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