No capitalismo, cidades democráticas é uma contradição sistêmica, mas ao mesmo tempo a tentativa de criar mecanismos de controle e participação social e ampliar a acessibilidade dos serviços e a própria cidade na sua dimensão mais ampla, podem contribuir para alicerçar e acumular forças para construção de um novo modelo de sociabilidade econômica e social, em que o conjunto da sociedade possa decidir e ter direito à cidade.
O conceito de cidades democráticas, se alinha a projetos coletivos, dentro das estruturas organizativas de disputa pelo poder político para gestar as cidades, esses projetos coletivos, em tese, estariam vinculados ao norte político dos partidos políticos e os movimentos sociais, é o que pressupõe as suas existências.
Entretanto, as condições objetivas, historicamente tem mostrado um cenário, marcada pelo predomínio de revezamento do poder político e econômico de determinados grupos desvinculados de proposições coletivas e unificadas.
A disputa eleitoral e a composição dos governos é uma radiografia que demonstra a hegemonia de grupos políticos e econômicos comprometidos com a prosperidade seletiva e individual. O processo de exclusão e anulação das forças políticas alinhadas a projetos emancipatórios e de radicalização da democracia são naturalizados.
O cenário das eleições de 2024 demonstram sinais de alerta para a classe trabalhadora e suas organizações, o crescimento da direita e a sua capilaridade social é incontestável. A esquerda, em especial o Partido dos Trabalhadores (PT), tem seguido a mesma lógica dos agentes do capitalismo, que é afastar as lideranças oriundas dos movimentos sociais dos espaços de poder político para manter a lógica da disputa dos projetos individuais e econômicos.
A identidade política da esquerda no processo eleitoral e de composição dos governos se dilui e se confunde com os governos de ordem liberal e da própria direita. É preciso avançar e reaproximar para o campo da esquerda que as vozes dos movimentos sociais, dos gestores públicos e parlamentares são contraditórias, sendo separadas. Os movimentos sociais devem ser farol para alimentar os projetos de cidades democráticas.
A barganha econômica sempre deu o tom nas disputas pelo domínio das cidades, o que não pode ser naturalizado, pelo contrário devemos romper com essa lógica que é a mesma diretriz que tem conduzido hegemonicamente candidaturas aos cargos de interesse público ( prefeitos/prefeitas e vereadores/vereadoras).
No campo da esquerda, os gestores e os seus parlamentares, devem assumir compromisso com as suas organizações e as pautas mais emergentes da classe trabalhadora, caso contrário serão câncer e coveiros dos partidos de esquerda.
A incidência política para constituir cidades pedagogicamente comprometidas com a democracia deve caminhar com a ciência, planejamento participativo e o protagonismo dos movimentos sociais discutindo e decidindo os rumos da cidade. Essa compreensão parte do entendimento que as políticas públicas devem ter caráter estruturante, enquanto política de estado, se distanciando da política de governo e de favores. As cidades democráticas não devem ser maquiagem para o capitalismo, mas instrumento para sua derrota.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, artista, educador e integrante do Coletivo Camaradas
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri