Nesta semana fugirei do modelo formal e da narrativa em terceira pessoa para compartilhar de forma direta a minha experiência de construção profissional.
Princípios básicos para iniciar
Em 2010 comecei a ver a necessidade de mudar de área profissional após 2 anos de experiência na em manutenção de computadores (é uma a forma como a maioria dos profissionais iniciam a carreira), comecei com a visão errônea de que ao gostar de interagir com máquina mais do que com pessoas, seria uma área em que me encaixaria muito bem. Com o amadurecimento tanto meu quanto da área, fui entendendo que o trabalho de um bom profissional de TI é conseguir balancear as relações interpessoais (soft skills) com o desenvolvimento de software (hard skills), afinal qual a finalidade em desenvolver software se não suprir necessidades das pessoas?
Após pensar em desistir enquanto cursava o segundo semestre, comecei a receber fortes conselhos dos então professores Sidney Pinto e Robério Patrício, o que me ajudou a entender a importância de criar metas e então vivenciar o mundo acadêmico de forma intensa. No quarto semestre, eu e mais outros colegas nos juntamos à startup Nooclix dos então professores Iury Teixeira e Leonardo Torres e uma breve passagem pela empresa Up, do professor Alen Vidal, ambas situadas na própria sede da faculdade, a moeda de troca era a oportunidade de conhecer as ferramentas e linguagens de programação, assim como promover a aplicação prática da teoria. Um dos pontos cruciais para que tal esforço tivesse êxito foi o entendimento de que aquela não era a hora de ganhar dinheiro, e que a experiência estava sendo um pagamento incalculável. Continuei trabalhando na mesma até o término da graduação e sempre buscando estar atualizado com o que o mercado exigia, pois como citei anteriormente, criei metas e entre essas metas estavam algumas empresas e cidades para as quais eu gostaria de trabalhar.
Mapa de oportunidades e exigências
Após viver a faculdade de forma intensa fiz um mapeamento dos pólos de empresas de desenvolvimento de software mais próximos da minha cidade natal, marquei algumas como prioridade e passei a estudar as exigências das empresas daquelas região. Então comecei a realizar estudos mais direcionados e codificar provas de conceito utilizando as mesmas linguagens e ferramentas exigidas pelas empresas, não posso deixar de mencionar o apoio essencial de minha esposa Gabriela Gomes. Em 2013, eu e Feliciano de Sousa (colega de faculdade e amigo) decidimos imprimir várias cópias dos nossos currículos, juntamente com um mapa de norte a sul da cidade de Fortaleza com todas as empresas de desenvolvimento de software para batermos de porta em porta com o discurso: “Oi, sou desenvolvedor de software, vocês possuem vagas abertas? Aqui está o meu currículo”. Após algumas entrevistas, umas bizarras e outras bem sucedidas, conseguimos voltar para Juazeiro com três propostas de empresas diferentes. Na mesma semana a convite do coordenador Sidney, tive a honra de assistir a uma aula do gerente de projetos/professor Albert Schilling da empresa Instituto Atlântico, o qual fez um convite inusitado para mim e outro colega de curso e amigo Rondinelli Mesquita pudéssemos tentar uma entrevista na mesma. Em uma jornada de três anos de crescimento intenso juntamente com o Instituto Atlântico, orgulhosamente ainda a chamo de casa.
A quem mais interessa o seu crescimento profissional?
Em meados de 2015 por motivos da não adaptação para com a cidade na qual morávamos (Fortaleza), eu e minha esposa decidimos iniciar um projeto com prazo definido para morar fora do país, tal projeto durou exatamente um ano e meio de dedicação extrema. O primeiro passo para obter sucesso com este projeto foi a exposição das minhas capacidades tanto de desenvolvimento de software quanto de liderança, passei então a me envolver com um projeto de código aberto, e a melhor forma de iniciar e entender o projeto foi escrevendo testes unitários e funcionais para os mesmos, pois nenhum membro ativo da comunidade iria negar contribuições para aumentar a qualidade do código. Para trabalhar com testes funcionais é necessário um profundo conhecimento da lógica de negócio, e os testes unitários te dão ampla visão dos algoritmos utilizados, essa foi a porta de entrada para a minha participação na implementação do núcleo do projeto e ganho de visibilidade na comunidade, bem como o entendimento e aplicação real dos conceitos de integração contínua, sprints, cobertura e revisão de código, definição de escopo e claro, o inglês. Todo este trabalho fora realizado entre os horários da noite e madrugada, logo após o término do horário comercial para evitar conflito com o meu trabalho no regime CLT.
O trabalho fala por si e fala alto
Após coletar inúmeros nãos e falsas promessas de emprego no exterior, recebi um convite da Linux Foundation por meio do projeto OpenDaylight para palestrar na cidade de Seattle nos EUA, por ser um contribuidor bastante ativo e de forma voluntária, a mesma se propôs a custear a minha ida, esta seria a minha melhor chance de conseguir o êxito naquele projeto pessoal. De forma meticulosa e um tanto maquiavélica criei um mapa de todas as empresas e pessoas chaves as quais eu deveria falar e então arquitetei todas as conversas e programei o envio de currículo para todos aqueles que poderiam me fazer uma oferta, afinal eu estava indo para um evento de negócios e não para um encontro de amigos! Por ter criado a minha base entendendo que o relacionamento com as pessoas era algo de extrema importância na área de TI, consegui cativar o interesse de uma das empresas no último momento do evento, a festa de fechamento, pois o melhor momento para realizar negócios não é em reuniões formais, mas sim em eventos casuais.
Concilie ego e humildade
Mesmo tendo trabalhado de forma intensiva, tenho plena consciência de que o conhecimento é algo constante e nunca chegarei ao perfeito (e nunca irei querer chegar). Ego elevado é uma verdade inconveniente presente massivamente em várias empresas daqui do vale do silício, porém o segredo de um bom desenvolvedor de software vai além do saber programar, pois é impossível resolver problemas sem empatia e é impossível obter sucesso com ego elevado, no máximo você será apenas um recurso útil momentâneo, mas apenas com humildade e perseverança conseguirá ser um profissional e humano essencial.
Por Yrineu Rodrigues. Juazeirense, desenvolvedor de software, atualmente morando em San Jose, CA
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri