Centros urbanos que incentivam seus habitantes a caminhar estimulam a difusão da integração humana e o espírito de convivência na sociedade. Cidades que se preocupam com o desenvolvimento de laços sociais face a face promovem espaços públicos de qualidade e tendem a ser mais seguras. Os planejamentos realizados buscam efetuar mudanças positivas na comunidade através da aplicação de investimentos inteligentes baseados em princípios sólidos e que são destinados ao bem estar da comunidade.
Para que a cidade incentive deslocamentos a pé, a distribuição do espaço deve ser equilibrada e conter uma variedade de tipos de edificações e serviços no mesmo bloco (uso misto do solo) integrados com as vias e as demais áreas públicas. O trabalho de remodelar áreas pensadas originalmente apenas para o uso do automóvel requer investimentos na infraestrutura voltados para a sustentabilidade e mobilidade urbana.
Uma vez que a cidade dispõe de espaços públicos seguros para a realização de deslocamentos a pé, todos os outros ingredientes necessários para desenvolver um lugar saudável e confortável são pensados: o ciclismo, o automobilismo, serviços de entrega, coleta de lixo, e áreas de estacionamento por exemplo. Todo o fluxo de pessoas, transportes e mercadorias são avaliados.
Uma cidade que prioriza as necessidades do pedestre, preocupa-se automaticamente com o design das ruas, a integridade e a relação existente entre todos os elementos que compõem o cenário urbano: as residências, as empresas e instituições, as áreas de lazer, a infraestrutura e transporte público.
Princípios básicos que incentivam os pedestres
Forma:
1- O espaço público deve apresentar uma forma definida no qual a composição arquitetônica dos edifícios contam com um balanço harmônico com os demais elementos: calçada e a via. O conjunto possui uma relação proporcional de largura, continuidade e altura que serão complementados por um paisagismo que molda o cenário urbano.
Conforto:
2- Essas condições variam de acordo com a localização e o clima. Em locais frios os habitantes preferem áreas mais ensolaradas e abertas; já em regiões de climas quentes o sombreamento das ruas é preferível. A implantação de um projeto paisagístico considerando-se a adaptação climática é um ingrediente crucial, pois a implantação das árvores ao longo de um passeio público é a forma comum de adaptação climática. Alguns elementos arquitetônicos que também são implementados são as marquises, toldos e arcadas sobre as calçadas que ajudam a regular a entrada do brilho no interior do ambiente.
Segurança:
3- Os pedestres optam por lugares que se sintam razoavelmente livres do perigo. Ruas em que há mais edificações com portas, janelas e sacadas ao invés de uma longa extensão de muros, são mais convidativas à circulação e o índice de criminalidade pode ser baixo ou nulo. Com a baixa velocidade da motorização, além de diminuir acidentes automobilísticos, os pedestres sentem-se mais confiantes ao andar de bicicleta ou caminhar pela calçada.
Conexão:
4- Constituindo uma rede integrada, as vistas da rua devem ser organizadas para criar uma sequência de segmentos legíveis de modo que haja pontos de referência para ajudar na orientação. Seria ideal também apresentar pequenos blocos, pois a possibilidade de opções de rotas e a variedade de experiências podem ser maiores.
Interessante:
5- Um design tridimensional urbano interessante e distinto no qual combina elementos da arquitetura, são atrativos e não tornam o passeio monótono. A criação de perspectivas que enquadram elementos naturais da paisagem junto à edifícios formam cenários agradáveis e ainda habitáveis quando no mesmo bloco encontram-se mesclados com um conjunto de habitações, instituições, espaços abertos e varejo.
Como forma de medir a capacidade de passagem ou circulação nas ruas feita pelos pedestres, a firma urbana Hall Planning & Engineering, localizada na Flórida, criou um índice que utiliza um conjunto fixo de critérios baseado em atributos físicos como a frequência das interseções e o caráter do bloco. O Índice de “Walkability” usa medidas de contexto e densidade atrelados ao conforto, sensação de liberdade e segurança dos pedestres e que são analisados no espaço.
Os critérios abordam desde a velocidade dos veículos medida entre os horários de pico e as características do trânsito (pontos e abrigos de ônibus e bicicletários), largura da rua, presença de estacionamentos e a distância entre cruzamentos, assim como a relação entre a altura das edificações à rua, largura da calçada, design da fachada das edificações, uso misto do solo entre outros detalhes são analisados bloco a bloco.
O intuito de prover espaços públicos bonitos, funcionais e distintos é fazer da nossa vida cotidiana agradável e não monótona, desenvolvendo a interação e empatia social e ensinando a relevância da manutenção dessas áreas para benefício da comunidade.
Inspirado em: Street Design, DOVER,Victor / MASSENGALE John.
Por Gabriela Gomes. Apaixonada pela Arquitetura e o Urbanismo. Acredita em uma arquitetura participativa como uma ferramenta capaz de provocar mudanças e promover a inclusão social. Por um Urbanismo sustentável e inteligente. Juazeirense, reside atualmente em San Jose, CA
*Este texto é de inteira responsabilidade da autora e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri