Um amigo me falou esses dias que a gente estava perdendo muitos amigos. Eu entendi o que quis dizer, ele se referia a perda material pela morte. Porque amizade é conexão de espíritos, amigos de verdade não morrem nunca, o vínculo é eterno.
Na verdade, meu amigo se referia aos últimos dois anos em que a nossa turma vem sofrendo algumas baixas. É que a idade vem chegando, e homens, sabemos, não nos cuidamos muito bem. Prevenção? Não faz muito sentido para os homens. Aí, quando se chega aos quarenta, que a gente já passou faz tempo, os sinistros começam a acontecer. Vale dizer que eles, os sinistros, têm sua origem, por incrível que pareça, em práticas muito previsíveis. Sedentarismo, algumas vezes, consumo de tabaco em outras, alcoolismo na maioria das vezes, tragédias anunciadas, outras tantas no conjunto da obra.
Some-se a isso o descaso em exames preventivos muito acessíveis a todos. O problema é que até os quarenta+ acreditamos piamente na eternidade, homens adolescentam até onde conseguem e só então quando ocorre um sinistro que o ameaça é que resolvemos nos cuidar!
Falei para meu amigo que o melhor a fazer é não se apegar muito a essa questão de perda. Trata-se de algo certo, inexorável, embora indesejado. Falei-lhe que o melhor a se fazer é concentrar-se na vida, vivendo-a na velocidade máxima. Ele me perguntou: Como? Respondi-lhe que não sabia, não havia uma receita. Mas que eu acreditava muito em que aproveitar a vida, vivê-la a toda velocidade, o que menos implica é pressa. Tudo tem que ser na calma, na paciência, como o andar lento de uma tartaruga, já viram que elas vivem trezentos anos? Falei também que acreditava no equilíbrio, mesmo que a gente de vez em quando exagere, nos exercícios ou na bebida. Acrescentei também que é preciso intensidade, ao amar, ao ler, ao sorrir, ao perdoar.
Meu amigo perguntou se eu fazia tudo aquilo. E lhe respondi que desejaria muito, mas a vida é muito complicada, e a gente vai tentando. Mas eu amava muito, inclusive a ele; eu lia muito, livros e gente; eu sorria muito, era perceptível; e nunca neguei um perdão a ninguém, especialmente quando percebi o bem que me fazia.
A vida é um eterno processo evolutivo que não precisa necessariamente de muito tempo, aliás, “o tempo é relativo”, há quem evolua e alcance a excelência em poucos anos, vinte ou trinta, sei lá, o que leva a essa evolução, digamos abrupta, é a tragédia. Há outros que evoluem lentamente, dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano, vida após vida, é que algumas pessoas se pretendem anjos. E infelizmente há os que não evoluem nunca.
Definitivamente não há receita. O que há, diariamente é a oportunidade de nos humanizarmos, mesmo quando o mundo nos diga diuturnamente nas redes sociais, na TV, nas ruas, nas praças, nos morros e nas favelas, que o ser humano é a pior das espécies, e é. Mas é preciso que a gente busque essa evolução, essa humanização não no sentido de humano ser racional, mas no sentido húmus, que preserva e melhora a vida, afinal de contas ninguém veio aqui ad eternum, uma hora a gente vai, como nossos amigos estão indo, até lá, já que acreditamos no encontro, sejamos esse húmus, que é quase como ser poesia!
Por Francinaldo Dias. Professor, cronista, flamenguista, contador de “causos” e poeta
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