O cara era um egocêntrico de carteirinha. Um verdadeiro exemplar do poema em linha reta do “poliman” Fernando Pessoa. Desde criança “auto-aclamava-se a si mesmo” o centro das atenções, sim, tetra idem, na auto-aclamação.
Os pronomes quando utilizava, rara às vezes não eram em primeira pessoa, e a preferência era pelos possessivos.
— Meu pai é o melhor jogador do time do meu bairro!
— Minha casa é a mais chique da rua!
— Minha mãe é a mulher mais bonita da cidade!
Não havia nada segundo lugar em sua posse!
Sempre o seu era mais. Fazia-me lembrar a descrição que Alencar faz da índia Tabajara, Iracema, da famosa lenda do Ceará.
Entretanto, na escola o desempenho deixava muito a desejar. Não possuindo as melhores notas, embora não fosse reprovado, não tocava nesses assuntos por razões óbvias: ele era um the number one! E isso não ajudaria na sua reputação.
Na adolescência não havia, pelo menos para ele mesmo, quem o superasse.
— Sou o mais destemido.
— O mais desenrolado.
— O melhor jogador do time.
— O mais namorador!
Isso sem abandonar os possessivos: — Minha bike é mais equipada!
Assim, chegou à juventude, e ele permanentemente o melhor em tudo.
Ingressou na faculdade, particular, diga-se de passagem, EAD, primeiro lugar, como não poderia deixar de ser. Insistia em vangloriar-se de suas conquistas.
Formado arrumou emprego numa multinacional do pai de um amigo de seu pai, era estagiário mas a todos falava em analista Júnior.
— Já, já, serei CEO da empresa, era inevitável.
Comprou uma moto, depois um carro, em seguida um apartamento na planta, dizia ele.
Era realmente um homem bem sucedido e demonstrava isso nas happy hours com os amigos que, pra ser sincero, achavam-no o maior chato.
Com as mulheres era um gabola incontrolável e dizia o que não fazia, o que se veio a descobrir depois quando uma delas a Glória o desmascarou depois que ele criou uma narrativa que a reduziu a condição de mulher fácil.
A última vez que o vi, foi em um churrasco onde cagava goma descaradamente, vantagem por cima de vantagem
— Meu carro, último lançamento! É o fraco!
— Minha moto 400 cilindradas! É a fraca!
— Meu apartamento na cobertura! É o fraco!
Até que um amigo, já cheio daquelas mentiras deslavadas, não aguentando mais tanta cagação de goma, saiu com uma, que confesso, não gosto quando envolvem terceiros de boa fé.
— E a tua irmã? Que rodou com todo mundo? Onde anda?
Fez-se um silêncio no espaço! Até a energia caiu na hora e a música parou. Ou alguém desligou de propósito só para ver a reação dele.
Mas ele não se abalou:
— Minha irmã?
— Minha irmã virou freira!
— Casou com Jesus!
— É o fraco, meu cunhado!
E ninguém mais o levou a sério!
Por Francinaldo Dias. Professor, cronista, flamenguista, contador de “causos” e poeta
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri










