O lar é o espaço em que nos sentimos à vontade e livres para sermos nós mesmos. É o nosso refúgio e a primeira opção quando pensamos em nos resguardar e descansar. Nele abrigamos nossos objetos pessoais, recebemos nossos familiares, amigos e também guardamos memórias.
Quando bem elaborada, a moradia torna-se aconchegante e todos os espaços são bem aproveitados, mas quando contém falhas de planejamento, o confortável torna-se o oposto criando barreiras, trazendo frustrações e perigo aos usuários.
Muitas pessoas hesitam em investir dinheiro em casas acessíveis ou em reformas supondo que terão muito trabalho e que a valorização do imóvel irá despencar após as adaptações ou são orientadas por uma cultura que nos faz acreditar que seremos jovens para sempre.
Quem precisa de uma casa acessível?
Todos nós em alguma etapa das nossas vidas necessitamos de alguma adaptação à medida em algum ambiente. E isso pode ser devido ao nascimento e crescimento de nossos filhos, envelhecimento nosso ou de membros familiares ou até mesmo a aparição de uma enfermidade, mesmo que de quadro provisório. À medida que os anos passam a rotina e as necessidades dos moradores mudam exigindo assim novas adaptações. Ao sofrer uma queda, acidente ou ferimento, pessoas precisam mesmo que temporariamente de casas funcionais para realizar as tarefas cotidianas e tornar a vida mais fácil. A realização do projeto deve então ser compatível e conter adaptações exclusivas de acordo com o quadro de necessidades diárias dos usuários.
Pessoas que apresentam limitações intelectuais, lesões cerebrais sofridas em decorrência de um acidente vascular cerebral, doenças cognitivas causadas pelo envelhecimento (demência) e outras tantas mais que afetam habilidades físicas quanto sensoriais como a Esclerose Múltipla (EM), acometendo tanto a visão quanto os músculos, e a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) que compromete a força e as coordenações como a fala, também precisam de uma residência acessível. Ao projetar espaços adaptáveis permitimos que estes residentes possam continuar a expressar suas habilidades e lidar com as limitações mais facilmente mantendo o espírito acolhedor que o lar deve possuir.
Indivíduos com limitações sensoriais como a baixa visão ou com perda auditiva também necessitam de lares acessíveis. Ambientes bem iluminados sem a projeção de reflexos e com boas linhas de visão, e a utilização de materiais que proporcionem uma boa qualidade acústica por exemplo, são algumas das estratégias trabalhadas e que melhoram a experiência sensorial dos usuários.
Porque projetar uma casa acessível
A construção ou remodelação de um imóvel requer investimento financeiro, tempo e energia. Mesmo exigindo a atenção de ambos ( profissionais do campo e os clientes/proprietários), quando acabada a obra, o retorno proporcionado estende-se por todo um ciclo de vida. Imóveis bem projetados que oferecem ambientes já adaptados ou apresentam alternativas diversas para possíveis adaptações futuras, são propriedades valorizadas e estão na meta de compradores que procuram por uma oportunidade de ter um lar que atenda às suas necessidades durante as várias etapas de sua vida.
Como distinguir uma casa acessível das demais
Imóveis acessíveis passam o sentimento de amplitude porque há menos paredes entre as áreas comuns, as entradas são mais largas e as janelas mais altas. Pisos de nível proporcionam um fluxo seguro e confortável entre as áreas de estar e as áreas íntimas. As aberturas devem ainda permitir a entrada de luz e a circulação de ar mantendo os ambientes arejados, a cozinha é ergonômica e dispõe de compartimentos de armazenamento compactos e áreas de trabalho amplas, e o banheiro é um pouco mais espaçoso que os tradicionais.
Ao darmos a adequada atenção para com os detalhes desde o início da construção de um imóvel, os custos de manutenção posteriormente serão baixos e isso se dá com a escolha de materiais não tóxicos, materiais de acabamento com boa qualidade e que ofereçam a iluminação e o tratamento da acústica apropriados. Estes são alguns dos detalhes que valorizam e tornam a edificação atrativa reduzindo as chances de eventuais acidentes domésticos.
Universal, Adaptável, Acessível e Visitável são portanto, os tipos de recursos que a residência deve oferecer. O design Universal refere-se à objetos e lugares que podem ser apreciados por pessoas de todas as habilidades; ambientes Adaptáveis podem ser disponibilizados com o mínimo de esforço; Acessíveis de modo a permitir fáceis deslocamentos e acomodações sem barreiras ou fatores limitantes; e Visitável por permitir às pessoas o acesso à ambientes de maneira que possam realizar as necessidades individuais. Ter uma imóvel que ofereça conforto e segurança, priorizando a criação e utilização de ambientes que restauram as capacidades dos moradores e devolvem a independência destes, usando da criatividade para dar alegria e praticidade à realização das tarefas diárias, solucionando problemas com a visão certa de modo a eliminar barreiras, é certamente o objetivo dos arquitetos e designers que trabalham com dedicação e empenho na realização de projetos em parceria das famílias envolvidas.
Inspirado em : PIERCE, Deborah / The Accessible Home, 2012
Por Gabriela Gomes. Apaixonada pela Arquitetura e o Urbanismo. Acredita em uma arquitetura participativa como uma ferramenta capaz de provocar mudanças e promover a inclusão social. Por um Urbanismo sustentável e inteligente. Juazeirense, reside atualmente em San Jose, CA
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri