O vestido branco ficou na estaca com as marcas da terra e do arame farpado, parece que o corpo saiu se rasgando.Afinal, só tinha o vestido, o resto é dedução. Enquanto isso, em alguma parte do mundo tomo café, escuto blues sem entender nada e me balanço como se conversasse comigo, mas a lembrança do vestido pareceria bofetear o meu rosto.
Estou longe de casa e não sei o caminho de volta, por aqui, só tem estradas,nenhuma pousada, nenhuma casa, algumas sombras, o resto: estradas. desconheço todas, tem algumas que até me arrisco porque os percursos são mais curtos.
Daqui só posso te mandar cartas de ausência. Posso te mandar também poemas longos de Neruda, a objetividade de Benedetti e as poesias gozosas de Cida Pedrosa, mas certezas, não espere.
A todo instante parece que as estradas estão de brincadeira, quando percebo, revejo as mesmas paisagens e tento refazer os caminhos.
Como não estou em casa, não tenho como receber ninguém. Casa fechada não deve entrar sem permissão.
Devo chegar em casa, acredito que ainda tenha muita bagunça para organizar. As roseiras devem estar com sede. Talvez tenha café e um pouco de açúcar, se faltar gás, a gente providencia uma lenha e toma café numa xícara improvisada de extrato de tomate. Devo chegar com algumas cicatrizes, mas de vestido novo.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, artista, educador e integrante do Coletivo Camaradas
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri