Ainda escrevo cartas de amor, mas hoje, o sol passou mais rápido e a lua teve pressa. A bala cortou as nuvens e atravessou minha janela. Os fogos anunciavam a copa das multinacionais e a criança sem bola teve a sua comida roubada.
Escuto o sexo do vizinho, a cama faz barulho, mas parece, alguém desesperadamente batendo à porta. Gol, grita o narrador na TV, enquanto o vizinho faz silêncio.
Diante dos quartéis, torcedores do delírio usam verde e amarelo, gritam, choram, oram. Pede liberdade e intervenção militar. O mesmo que desejar um filho e matá-lo.
O jogo parece não ter fim, as bolas e as balas entram em campo, as coisas importantes ficam na reserva. Na escola ensinaram o menino a sonhar pequeno, policial ou jogador, nada mais no seu horizonte.
O almoço veio com jogo e balde de sangue. O noticiário é da bola e da bala. Por isso, continuo escrevendo cartas de amor.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, artista, educador e integrante do Coletivo Camaradas
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri