Coloquei a bola de cristal, os baralhos e joguei todos os búzios, não obtive nenhuma resposta. O caixa eletrônico do banco foi mais certeiro, apontou extratos e saldos. Esse mês gastei desnecessariamente tentando encontrar a felicidade. Para acelerar o coração: café com canela.
Por hoje não te peço em casamento, muito menos proponho te encontrar no final da tarde para o chá, nem depois para jantar, ou um pouco mais tarde para ver a lua. Vamos se encontrar sem previsões, mesmo sabendo que você já tem o meu mapa astral, foi fácil, bastou saber que minha aparição se deu às onze de uma manhã, no dia da consciência negra e um ano antes da anistia da ditadura militar.
Daqui a pouco, eu devo ir, talvez para padaria, com aquela desculpa que volto, algumas vezes voltei. Já não consigo escrever grandes sonhos, não que falte imaginação, apenas é curto o tempo para olhar o horizonte e massagear o queixo, as imagens das nuvens têm sido mais demoradas.
As curvas das esquinas apresentam desejos. Ando muito, os oráculos não me servem, as bússolas só indicam a localização e mesmo assim ficamos desorientados. A padaria fica bem pertinho, o pão é macio, e se não tiver apego, nem vou perceber quando sair.
Pode ser também que a padaria saia fora da história. Não acredito em milagres e os encontros marcados podem não acontecer. É tudo tão imprevisível que desconfio de todas as certezas.
Para te acalmar vou sumir por alguns dias, em outros, encher de beijos a tua vontade, lançar nos teus ouvidos incêndios, depois, é depois e o verso da vida é escrito em movimento.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, artista, educador e integrante do Coletivo Camaradas
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri