A pandemia do coronavírus (Covid-19) impõe formas diferenciadas de se relacionar com as pessoas e os lugares, o isolamento social cria novas reinvenções culturais, diante da crise da saúde pública e da economia. O processo de circulação artística ganha a dimensão das plataformas virtuais, o que nos faz refletir sobre a democratização da sociedade.
A circulação da arte nas plataformas virtuais, é uma das alternativas viáveis para o momento e de democratização da produção estética, artística e literária na sua diversidade e pluralidade de formas e conteúdos.
A arte e o uso das tecnologias e das novas mídias favorecem o processo de potencialização de poéticas e narrativas artísticas, visibilidade de sujeitos e grupos sociais. É um instrumento de favorecimento da economia da cultura e político.
As redes sociais vem hospedando e servindo como corredor para apresentações e exibições, os espaços tradicionais de apresentação vão sendo subsistido por outros espaços improvisados: quartos, salas, garagens e quintais, vão se transformando em palcos, ateliers, terreiros, etc. As produções locais vão ganhando dimensão universal. O artista brasileiro pode ser visto na China, ou em qualquer parte do mundo. Umas das características da contemporaneidade, a aproximação dos saberes, fazeres, culturas e estéticas a partir do encurtamento e da instantaneidade virtual.
No Brasil é crescente o acesso à internet. De acordo com pesquisa divulgada pelo IBGE em 2018, cerca 70% da população tem acesso à internet, boa parte via celulares, essa acessibilidade caminha com os interesses de ampliação de mercados e acumulação do capital. Entretanto, acessibilidade de equipamentos culturais e de políticas públicas para a cultura que favoreçam a democratização estética, artística e literária continua distante do desejado. O cinema brasileiro financiado com recursos públicos, circula basicamente em festivais e cinemas comerciais e o seu conteúdo não é disponibilizado publicamente, o livro continua um produto caro, as bibliotecas e espaços de leituras ainda são tratados como armazéns de livros e não como espaços vivos e dinâmicos de democratização e incentivo à leitura, o patrimônio material e imaterial continua enfrentando dificuldades para a sua salvaguarda, a diversidade e pluralidade das linguagens artísticas tem uma produção e circulação estratificada socialmente. A democratização cultural e o direito à cidade continua na ordem das nossas lutas.
Umas das bandeiras políticas que devem ser fortalecidas neste processo de crise é a necessidade de reafirmação da consolidação do Sistema Nacional de Cultural ( SNC), principal marco legal, que consegue perceber a cultura dentro de uma perspectiva da macropolítica e assegura os mecanismo de participação social, garantia de recursos financeiros e o planejamento da política pública, num entrelaçamento entre estados e municípios.
As plataformas virtuais se caracterizam como umas alternativas para lidar com os impactos da crise econômica na atual conjuntura, ao mesmo tempo que pode ser uma forma de monetarização do fazer simbólico, pode e deve ser também percebida com um instrumento de aproximação, articulação e fortalecimento da luta política das trabalhadoras e trabalhadores da cultura do país. Ocupar as redes e defender o Sistema Público de Cultura a nível nacional é compatível com os novos tempos.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri