Disseram que ele chegou arrastando uma cachorra. Trazia consigo um saco de estopa às costas com mantimentos e roupas, e herculeamente um cacho de bananas casca verde. Não se sabia ainda do sonho, coragem, força e mesquinhez daquele homem, mas os anos iriam provar bastante a seu respeito, não tudo.
Os anos de chumbo no Brasil das grandes cidades chegava pelo rádio, jornais e aparelhos de TV elevados em estruturas metálicas nas praças. Na pequena cidade, pouco se percebia os danos daquela ditadura, e naquela comunidade então, desde a epigênese chegada dos primeiros moradores advindos dos sertões pernambucanos, a luta ali era outra, em cada casinha era travada uma guerra pela sobrevivência e multiplicação dos arrimos por pedras proles.
Não se tratava de um analfabeto de pai e mãe, não senhor. Sabia ler e calcular. Freirianamente alfabetizado, friamente calculista. À revelia, compreendeu a máxima “quantos pobres são necessários para se fazer um rico?”. O tempo lhe responderia. Alocou-se numa esquina, construiu com frandes e madeira uma espécie de quiosque e ali principiou seu projeto de riqueza. De início, as mercadorias eram bananas casca verde trazidas semanalmente de um sítio onde fora empregado. Vendia ainda cachaça de cabeça de um antigo alambique, que de tão forte tiborna era misturada a dez por um de água e distribuída em pequenas garrafas as quais denominara meiota e eram vendidas às dezenas, além, claro, das famosas doses diárias para abrir o apetite ou a coragem do banho dos trabalhadores ao final do dia.
Muito embora não houvesse naquela época os modernos papudinhos, a cachaça do brejo como era conhecida regava o apetite etílico da comunidade. Havia ainda o carvão, comprado as sacas aos carvoeiros que tinham caieiras nos sopés d e serra da cidade, essas caieiras gozavam status de legalidade naquela época e o carvão era tão comum nas cozinhas das famílias como hoje encontramos o gás butano. Assim se deu o nascimento de um império. O senhor me desculpe não puder continuar essa história, é que meu busão tá chegando, e eu preciso trabalhar. Depois poderei continuar.
Por Francinaldo Dias. Professor, cronista, contador de “causos” e poeta
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri










