É comum para a maioria das pessoas julgar algo por sua aparência externa. Não sendo diferente quando olhamos apenas por fora para uma capa de um livro ou um edifício, os julgamentos estéticos obtidos através da primeira impressão (sendo a mais superficial), despertam sentidos e trazem interpretações na qual a idéia apresentada pode ser certa e interessante para alguns, mas pode também ser errada ou enfadonha para outros. Tratando-se de arquitetura especificamente, o processo e expressão do instrumento criado deve ser analisado com muito mais profundidade pois vai além de sua aparência por incluir vários fatores, planos, seções e elevações que estão por trás e que sustentam determinado projeto.
Assim como o escultor, o arquiteto trabalha com a forma e a massa, mas as formas criadas pelo arquiteto não são puramente geométricas como as de uma escultura abstrata. Na arquitetura as formas que nascem possuem um caráter de utilidade e são consideradas uma arte funcional. O papel do arquiteto é solucionar problemas práticos, confinando espaços para que possamos habitar neles. A arquitetura que nasce são formas para serem vividas e não apenas para serem vistas de fora.
Além do conhecimento de técnicas e materiais, compreender o contexto no qual se está inserido pode-se muitas vezes evitar a execução de projetos equivocados. Não é aconselhável copiar projetos (mesmo que universalmente admirados) e estes serem postos em contextos totalmente diferentes, não é assim que funciona. O que pode ser encantador e funcional em um determinado lugar não será necessariamente visto com os mesmos olhos em outro contexto. O arquiteto é como um produtor teatral que deve estar ciente do seu cenário. Conhecendo-se o ambiente cultural terá a capacidade de configurar e planejar os espaços de modo que sua arte alicerçada se acomode e seja até mesmo adaptável o suficiente para improvisações imprevistas.
Quando o arquiteto se inspira em algo para fazer seu projeto, ele produz uma arquitetura de caráter individual que passa a ter sua própria personalidade. A singularidade da composição pode apresentar um único efeito como o de suavidade e dureza, por exemplo, ou apresentar uma mistura de combinações de materiais, formas e cores de elementos que atingem diferentes efeitos e torna a arquitetura especial e distinta.
Quando conseguimos descrever nossas impressões de um objeto, de uma arquitetura de qualidade que foi concebida a ter sua própria personalidade, a descrevemos praticamente como um ser vivo, pois a percebemos com características tão cheias de espírito que transmitem uma mensagem através do efeito tão particular gerado em nossa mente.
Compreender arquitetura não é apenas identificar o estilo de uma edificação por meio dos elementos da fachada. Temos que a experimentar, entender o seu ritmo, observar de perto os efeitos texturais, as dimensões, os jogos de luz e sombra criados, a acústica dentre várias outras particularidades daquela obra. A arquitetura deve ser compreensível e torna-se papel do arquiteto produzir conjuntos integrados que trazem ordem e relação ao ambiente humano.
Inspirado em: RASMUSSEN, Steen Eiler / Experiencing Architecture
Por Gabriela Gomes. Apaixonada pela Arquitetura e o Urbanismo. Acredita em uma arquitetura participativa como uma ferramenta capaz de provocar mudanças e promover a inclusão social. Por um Urbanismo sustentável e inteligente. Juazeirense, reside atualmente em San Jose, CA
*Este texto é de inteira responsabilidade da autora e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri