No compasso das horas, o amor e a perda dançam uma valsa que poucos compreendem até que sejam convidados a participar. Foi em um café aconchegante no centro da cidade que Laura e Rafael se encontraram pela primeira vez. O aroma de café fresco e a melodia suave de um piano ao fundo criaram o cenário perfeito para o início de uma história que ninguém poderia prever.
Laura, uma artista plástica com a alma cheia de cores, e Rafael, um músico com dedos que faziam o piano falar, se conectaram instantaneamente. Era como se o universo tivesse sussurrado um segredo para ambos, dizendo que estavam destinados um ao outro. Suas conversas fluíam como uma sinfonia bem ensaiada, e rapidamente se tornaram inseparáveis.
Eles compartilharam sonhos, medos e risos. Laura pintava enquanto Rafael tocava, e juntos, criavam um mundo onde a arte e a música se entrelaçavam de forma harmoniosa. Cada momento juntos era uma nota de uma canção que parecia eterna. O amor que tinham era palpável, visível nas telas de Laura e audível nas composições de Rafael.
Mas a vida, com sua imprevisibilidade cruel, mudou o tom dessa melodia. Rafael foi diagnosticado com uma doença degenerativa rara, que gradualmente roubava sua capacidade de tocar. A dor de ver seu amado afastar-se de sua paixão foi um golpe duro para Laura, mas ela permaneceu ao seu lado, sua lealdade inabalável.
Os dias de Rafael foram se tornando mais difíceis, e a música que antes preenchia suas vidas com alegria, agora trazia um peso de melancolia. Laura pintava cada vez mais, tentando capturar a essência do amor que sentiam, mesmo quando as palavras e os sons falhavam. Suas pinturas se tornaram mais sombrias, mas também mais profundas, refletindo a intensidade de sua dor e de seu amor.
Quando Rafael finalmente se foi, Laura sentiu como se uma parte de sua própria alma tivesse sido arrancada. O silêncio que ele deixou para trás era ensurdecedor. Os dias se misturavam em um borrão de tristeza, e a inspiração que antes fluía livremente, agora estava presa em um vazio desolador.
Mas com o tempo, Laura encontrou uma maneira de transformar sua dor em algo belo. Ela começou a pintar novamente, desta vez, não apenas para se expressar, mas para manter viva a memória de Rafael. Cada pincelada era uma homenagem ao amor que viveram, cada tela, um tributo à música que ele amava.
Laura organizou uma exposição em homenagem a Rafael, onde suas pinturas e as gravações de suas músicas tocavam em perfeita sincronia. O evento foi um sucesso, mas mais do que isso, foi uma celebração de uma vida que, apesar de breve, foi profundamente significativa. As pessoas que visitavam a exposição podiam sentir a presença de Rafael nas obras de Laura, e a dor dela se transformou em um farol de esperança para aqueles que também enfrentavam a perda.
No fim, Laura entendeu que o amor e a perda são inseparáveis. Eles são os dois lados de uma mesma moeda, e viver plenamente significa aceitar ambos. O amor que compartilhamos com aqueles que perdemos nunca realmente nos deixa. Ele vive em nossas lembranças, em nossas ações, e na forma como escolhemos continuar vivendo.
E assim, Laura seguiu adiante, carregando Rafael em seu coração, pintando a beleza da vida mesmo nas sombras da tristeza, e encontrando uma nova melodia para sua própria canção.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este artigo é de inteira responsabilidade da autora, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri