Você já deve ter ouvido falar do termo “uberizar”, ao meu entendimento este é um termo utilizado para enfatizar a desumanização de profissões. De tanto que a área de desenvolvimento de software tentou agilizar os processos de todas as outras áreas, era sabido que em algum momento “o tiro sairia pela culatra” e a automatização do trabalho também atingiria essa nossa área. Não estou falando de software que desenvolve software, ou automação de máquinas, mas sim da profissão.
Acredito que após o ano de 2010 (ou até mesmo antes) começamos a “fabular” sobre o trabalho remoto, onde era comum vermos as empresas oferecendo essa modalidade como um super diferencial e sempre associando-o à imagem da cadeira na praia, água de côco e o laptop, sendo que na maioria dos casos não é bem assim. O trabalho remoto tem um pacote imenso de vantagens, porém acabou abrindo precedentes para a modalidade de alocação de “recursos” em outras empresas, sim você leu direito, recursos! É assim que as empresas que trabalham com a modalidade de alocação externa enxergam seus funcionários, aqui vai um exemplo de como elas funcionam e a problemática que essas empresas geram:
Digamos que a empresa ‘A’ está precisando de pessoas para desenvolver uma série de projetos, porém não quer comprometer-se com a área trabalhista, por outro lado a empresa ‘B’ possui uma lista de profissionais de diferentes níveis e habilidades disponíveis para serem alocados temporariamente, logo, a empresa ‘A’ contrata os serviços de ‘B’ e inclui as pessoas (ou recursos como eles chamam) diretamente na empresa ‘A’, entretanto o gerenciamento de tais funcionários é de responsabilidade da empresa ‘B’.
Pode até parecer uma ótima prática se formos analisar somente pelo lado financeiro, porém (felizmente), não se aplica para realidade da área de desenvolvimento de software por todos os fatores de trabalho em equipe, gestão de pessoas e projetos. Empresas que trabalham com esta prática não conseguem providenciar um nível satisfatório de qualidade por não conseguir engajar a gestão nos projetos onde seus funcionários foram alocados, que além de criar confusão na relação entre cliente e servidor, colabora para o aumento do stress na área e consequentemente o desinteresse. Isso acaba gerando uma carga extra para o desenvolvedor alocado, que além de se preocupar com o desenvolvimento do produto, precisa ter o tal “jogo de cintura” para continuar a agradar o cliente. Independente se o time possui gerente alocado ou não, para que haja sucesso do projeto é necessário o engajamento da equipe, algo muito difícil quando se tem a tensão de cliente e servidor no mesmo barco, sempre são criados os jogos de interesses, e é aí onde mora o perigo . Esta prática abriu precedentes para péssimas formas de gerenciamento, e a única maneira encontrada para monetizar o trabalho do funcionário alocado dá-se pelo cálculo das horas trabalhadas, fazendo com que as empresas preocupem-se mais com horas do que com o desenvolvimento do produto em si.
A melhor solução para este tipo de problemática criada por essas empresas de fachada é a distribuição dos projetos por entre as empresas, voltando ao exemplo acima, se a empresa ‘A’ pretende desenvolver determinados projetos e necessita da ajuda de ‘B’, é sensato que parte do projeto seja alocado inteiramente em ‘B’, de forma que o time gerencie todo o ciclo de vida do projeto em prol de entregar o que fora acordado.
Se você já é meu leitor deve ter notado a ênfase da importância do trabalho em equipe na área de desenvolvimento de software, equipes são compostas por pessoas, rotinas e atitudes, o que não dá espaço para gerentes tiranos que fazem uso do medo e da ignorância para apropriar-se de pessoas e projetos. Desenvolvedor não pode perder tempo com jogos políticos e nem ter seus trabalhos mensurados como um recurso, máquinas possuem recursos limitados e fáceis de mensurar, pessoas não, porém mesmo com todo este avanço para a direção errada, fico feliz em dizer que o diferencial do futuro serão as empresas orientadas às pessoas e que tratam o desenvolvimento de software como uma arte.
Por Yrineu Rodrigues, juazeirense, desenvolvedor de software. Atualmente morando em San Jose, CA
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri